Duas ciganas burlaram uma família de Samora Correia a quem levaram todo o ouro que tinha em casa, avaliado em cerca de dois mil euros. A burla foi feita em pleno dia, sem recurso a violência e com uma estratégia invulgar. As mulheres revelaram conhecer os problemas de uma das lesadas e disponibilizaram-se para a ajudar a derrotar “as correntes do mal” com recurso a bruxarias. Eram três da tarde do dia 25 de Julho, quando as mulheres, aparentando ter 25 e 55 anos, tocaram à campainha do segundo andar, próximo das escolas da vila. Disseram que tinham “calções bonitos” para vender. Depois de alguma insistência, Ana Lúcia Santos abriu a porta às mulheres. Enquanto a mais nova mostrava os calções, a outra acenava com uma t-shirt cor de laranja onde supostamente estaria um produto que ajudou a dominar uma das vítimas.Vestida de saia comprida e avental grande à vendedeira, a falsa “bruxa” demonstrou conhecer a vida de Ana Lúcia, actriz da Associação Teatral “Os Revisteiros” e garantiu que a ajudava. Criada alguma empatia e depois de venderem uns calções, as duas mulheres acabaram por entrar em casa e sentar-se. A cigana mais velha pediu um copo de água para benzer Ana Lúcia e começou a pedir peças em ouro para destruir as correntes do mal. A jovem recolheu todo o ouro que tinha em casa e colocou-o nas mãos da cigana.Susana Santos, estava com a irmã e com um sobrinho, e apercebeu-se de tudo sem conseguir fazer nada para evitar a burla. Preocupada com a criança, acabou por se afastar da sala. Quando viu as peças de ouro na mão das ciganas, ficou apreensiva e disse à irmã para o recolher, mas já não conseguiu fazer nada. “Percebi que era uma burla quando ela disse que ia lá abaixo fazer umas coisas com a corrente de ouro e já voltava”, disse a O MIRANTE.As mulheres saíram e levaram consigo todo o ouro e as chaves de várias repartições do apartamento. Susana Santos não percebe como é que as duas irmãs se deixaram enganar e não tem dúvida que Ana Lúcia foi dominada com a ajuda de qualquer produto estranho. “Qualquer pessoa está sujeita a isto. Elas estão muito bem treinadas”, referiu. A mãe Perpétua Maçarico chora a perda de das peças, incluindo uma pulseira que herdou da mãe e outra oferecida por uma filha. “Eu sei que nunca mais as recupero. Tinham um grande valor afectivo”, diz.A burla aconteceu no dia em que o chefe de família fazia anos. “Foi a minha prenda”, ironiza Gil Santos que garante que se tivesse chegado um pouco mais cedo teria feito justiça pelas próprias mãos. “Eu tratava delas”, refere revoltado com a justiça que não prende os burlões e assaltantes. O MIRANTE confirmou que foi apresentada uma queixa contra desconhecidos no posto da GNR de Samora Correia. O processo será agora encaminhado para o Ministério Público. As autoridades desconhecem a existência de outras burlas semelhantes na zona. A GNR alerta para o perigo de abrir a porta a desconhecidos. Nelson Silva Lopes