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Arreganhado Manuel Serra d’Aire

É com os pés de molho, vistas de sonho e cerveja geladinha nas goelas que te escrevo este e-mail. Pois é meu caro, também eu tenho direito a férias. Reza a lenda que nos tempos do ditador Salazar só tinha direito a férias quem realmente trabalhava. Hoje, como sabemos, já não é bem assim. Basta dar o exemplo dos futebolistas para se constatar essa realidade insofismável. Não te admires portanto se me escorregarem os dedos para a asneira. Embora, perante algumas das últimas notícias que me chegaram do nosso Ribatejo, as minhas baboseiras sejam piolhos irrelevantes na selva amazónica de disparates, erros e omissões que por aí grassam como merda de cão em passeio citadino.Mas primeiro falemos de coisas sérias para manifestar a minha preocupação com o encerramento do misterioso caso do roubo do cofre da Câmara de Alpiarça. Se Arthur Conan Doyle fosse vivo, não resistiria a escrever mais uma aventura de Sherlock Holmes. Desta vez passada no Ribatejo em busca de um mono sumido de uma vetusta autarquia local.Era aliás uma forma digna de encerrar a saga do laborioso detective e do seu inseparável escudeiro Watson, eclipsados misteriosamente e para todo o sempre na bruma nocturna ribatejana. Porque se um paquidérmico cofre desaparece sem deixar rasto durante a noite e passados dois anos ninguém imagina sequer o que se passou, também não custaria aos leitores engolir um final desses. Aliás, algum dia levam Alpiarça inteira e ninguém dá por nada. Imaginativo Manel ouvi também dizer que a polícia vai ter umas brigadas para fiscalizar a canzoada que anda a poluir jardins e passeios das nossas cidades. Não lhes gabo a sorte. A dos agentes, obviamente. Levem protecções nas canelas e nos fundilhos das calças, porque os donos não vos vão perdoar. Quanto aos animais, tanto lhes dá fazer na carpete da sala ou na rua. A culpa não é deles.Os polícias que se preparem para ser os maus da fita quando começarem a aplicar multas a esses estrumadores de jardins e passeios públicos. Porque hoje é um acto social levar o cãozinho de manhã e ao final da tarde até ao relvado mais próximo para o seu passeio higiénico. Uma nobre missão em prol do bem-estar animal que consiste em dar cabo do asseio do espaço público. Aliás, quem nunca se deleitou ao vê-los, aos donos, tipo reunião da tupperware, em amena cavaqueira e postura descontraída contando as últimas façanhas dos seus rebentos, enquanto estes purgam os intestinos? É comovente este amor quase paternal.Talvez seja por isso que o meu sonho de despejar um balde de merda à porta de um desses energúmenos ganhe cada vez mais consistência. O que é queres? É o meu mau feitio a funcionar. Onde fui eu buscar esta mania de gostar de ver as nossas ruas limpas? Onde desencantei esta cisma de querer que este povo desfraldador de bandeiras nacionais seja todo minimamente civilizado?Eu sei que devia ser mais tolerante para com os nossos concidadãos que se marimbam para os outros. Eu sei que se calhar represento uma minoria. Eu sei que os putos têm mais sítios onde brincar do que na relva, nos jardins, nos passeios e por aí fora... Eu sei que devia dar a outra face. Mas o que gostava mesmo era de lhes mijar nas pernas para que pudessem sentir o que sofrem os pneus dos carros e os postes da electricidade quando os seus cãezinhos esvaziam a tripa perante a sua idiota complacência. Saudações higiénicas do Serafim das Neves

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