A sua faceta mais conhecida é a de treinador mas também chegou a ser atleta. Teve bons resultados?Eu desde sempre fui um doido pelo desporto. Eu e os meus irmãos. Quando estive na tropa cheguei a ser atleta do Belenenses, onde conheci um grande atleta e amigo – o António Riscado. Treinávamos sempre os dois juntos na zona do Restelo, onde me cruzei muitas vezes com o Mourinho Félix (pai de José Mourinho, treinado do Chelsea). Quando regressei da tropa, em 1972, vim para a Marmeleira e formei a secção de atletismo da Casa do Povo da Marmeleira, que participou durante muitos anos em provas da FNAT e depois do Inatel.Corria que tipo de provas?Meio fundo e fundo. Fui duas vezes campeão distrital de corta-mato e ganhei várias provas na região. Fiz não sei quantas meias maratonas e para acabar a carreira cheguei a correr a maratona de Lisboa. Foram 25 anos sempre a correr pela Marmeleira.Era treinador e atleta ao mesmo tempo...Na altura ainda não tinha curso de treinador mas no Belenenses tinha sido treinado pelo professor Matos Fernandes, que chegou a ser ministro em Angola, e pelo professor Eduardo Cunha. Foi com eles que aprendi e eram esses ensinamentos que ia transmitindo.Mas mais tarde tirou o curso de treinador?Sim. Em 1980 fui convidado pelo INATEL para treinador distrital, cargo que ainda hoje ocupo, embora esteja algo desligado já há algum tempo. Entre os atletas que apareceram estava o Rui Piedade, que era um corredor fantástico. Fomos aos nacionais do INATEL e ele venceu com um grande avanço sobre o craque lá de Lisboa. O professor Eduardo Cunha, que era responsável do INATEL e director técnico nacional de atletismo, quis saber quem era o treinador do Rui e mandou-me chamar. Perguntou se eu estava interessado em fazer um curso de treinadores e eu aceitei.Passou directamente da Marmeleira para o Clube de Natação de Rio Maior?Não. Estive no início da criação do Ribeirense. Na Marmeleira não tínhamos muitas condições nem apoios e com o 25 de Abril houve um grupo de pessoas na Ribeira de São João que se dinamizou muito e construiu uma pista de atletismo. Convidaram-me e eu aceitei. Na altura fizemos um acordo em que disputávamos a provas da FNAT ou do INATEL pela Marmeleira e as restantes pelo Ribeirense. Mais tarde o Ribeirense quis também inscrever-se no INATEL e chegámos a ter uma rivalidade muito saudável.Como conciliava os treinos com o trabalho na padaria?Enquanto fui padeiro tinha mais dificuldade em conciliar as duas coisas. Mas quando o meu irmão ficou doente deixei a padaria e fui trabalhar para uma fábrica de rações, onde estive sete anos como vendedor. Ai já saia às 19h00 e já tinha mais tempo para ir captar jovens e ir aos treinos.Como funcionário da câmara ligado ao desporto passou a ser mais simples…Quando vim para a câmara como dinamizador do atletismo tive todo o tempo livre para exercer a minha actividade de treinador. Se for preciso dou os treinos de manhã ou à noite e aos domingos estou nos torneios das freguesias, que já vai em 20 edições.É funcionário da Câmara de Rio Maior desde que o actual presidente foi eleito. O que é que o levou a deixar as vendas e a aceitar o cargo?Em 1986, quando Silvino Sequeira entrou para a câmara, fez uma reunião com várias pessoas e disse que queria dar a volta ao desporto e que contava comigo. Ele conhecia-me desde miúdo e sabia do meu gosto pela modalidade e convidou-me para entrar para a câmara. Eu ainda lhe disse que só tinha a quarta classe mas ele disse que não havia problema.E acabou por entrar para coordenar o atletismo?Exacto. Entrei com a missão que ainda hoje tenho de dinamizar e promover o atletismo no concelho. Comecei por ir às telescolas e arranjava miúdos para participarem nos torneios inter-freguesias. Na altura não dava apenas atletismo mas uma coisa que se chamava educação desportiva. Mas claro que quando via um miúdo com jeito tentava agarrá-lo logo para o atletismo.Foi nessa altura que foi criado o Clube de Natação de Rio Maior?Sim. Criou-se o clube e todos os jovens que eu trazia nesses torneios inter-freguesias e que gostavam de atletismo foram filiados no clube de natação. Foi uma estratégia que deu bons resultados.Porquê no clube de natação e não num clube próprio de atletismo?Na altura o presidente Silvino queria construir umas piscinas em Rio Maior mas a legislação não permitia que uma autarquia tivesse apoio para a construção de umas piscinas. Os apoios tinham de vir para os clubes e como havia aqui um clube de natação que estava inactivo há muitos anos, pegaram-se nos estatutos que estavam em ordem, fez-se uma direcção e inscreveu-se os atletas de futebol e atletismo. Arrancámos em Outubro de 1987 salvo erro.E os resultados não demoraram a aparecer…Quando o clube arrancou eu já tinha comigo atletas das disciplinas todas. Em 89 e 90 cheguei a acompanhar selecções do distrito ao Olímpico Jovem, que na altura se chamava DN Jovem, em que dos trinta miúdos que iam, 50 por cento eram do Clube de Natação de Rio Maior. Chegámos a participar no campeonato da primeira divisão com atletas de todas as disciplinas em pista.O Carlos Calado também esteve nessa equipa?Ele era de Alcanena mas ia muitas vezes treinar connosco à pista da Ribeira de São João. Nunca treinou comigo directamente mas esteve quatro anos no clube. O Gilberto Fernandes, que era de Alpiarça e foi segundo na Maratona de Lisboa e Campeão Nacional de Maratona, também foi meu atleta.