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Os lendários irmãos Badajoz

António e Manuel, peões de brega e bandarilheiros de Coruche que deram tudo à tauromaquia

Foram dos melhores bandarilheiros que a aficion de todo o Mundo viu. São de Coruche e usaram como nome de guerra o apelido Badajoz embora tenham sido baptizados com outro apelido. Vão ser homenageados pela câmara municipal dia 17 de Agosto, quinta-feira, “A las cinco en punto de la tarde”.

Para muitos aficionados os irmãos Badajoz são uma lenda entre bandarilheiros. Naturais de Coruche, durante muitos anos formaram parelha juntos e correram praças portuguesas e estrangeiras. António e Manuel Cipriano Badajoz têm meio século de alternativa, sem que isso pese nas suas maneiras de ser. São pessoas simples que gostam de falar de toiros e que não reclamam louros apesar de terem dado tudo pela festa brava. São clientes assíduos do café “A Forja”, no centro da vila e com frequência convidam amigos a sentarem-se junto deles para animadas conversas sobre tauromaquia. Nessas alturas desfiam memórias de sucessos e mazelas. Falam com entusiasmo, como se o passado fosse presente. Como se os toiros estivessem ali mesmo, de caras para eles. E quando falam empolgam quem os ouve. Quem os ouve sente ganas de se levantar para espetar um par de bandarilhas ou ensaiar fantásticos passes de capote. Passes a uma mão como aqueles com que os irmãos entusiasmavam plateias. António vai nos 76 anos, 57 de alternativa. Foi ele que ganhou o nome Badajoz que depois se tornou extensivo ao irmão. Um nome artístico nascido numa arena onde não se gritavam olés nem se aplaudiam artistas. “Nos últimos 50 anos nem imagina os milhares de vezes que já contei essa história” diz com um sorriso. “Trabalhava como aprendiz de ferrador numa oficina de Coruche frequentada por ganadeiros. Nessa altura já andava a aprender a arte de bandarilheiro. Um cliente entrou na oficina e em vez de me chamar pelo nome chamou-me Badajoz, vá-se lá saber porquê. O nome ficou”.O primeiro a tirar a alternativa foi António Badajoz, em 1949. Foi ele que ensinou a arte ao irmão que passou a profissional quatro anos depois. Curiosamente António aprendeu na escola de um toureiro praticante, Francisco Susana, que só tiraria alternativa depois do primogénito Badajoz. Durante algum tempo os irmãos actuaram em quadrilhas diferentes. Manuel fez parte da famosa “Quadrilha maravilha”, que também integrava José Tinoca e Manuel Barreto. Mas a maior parte das suas carreiras tourearam juntos. “Senta-te aqui para ouvires umas histórias, estamos a dar uma entrevista”, diz António Badajoz para um homem que chega. António e Manuel tratam todos por amigos. E as memórias, que o irmão mais velho quer um dia registar em livro, continuam a sair em catadupa. Contam que fizeram uma escola de toureio em Coruche em 1958 que mais tarde acabou porque os tempos mudaram e eles envelheceram. Por aquela escola, onde Manuel Badajoz para além de ensinar também fazia os fatos dos alunos com bocados de outros fatos que colegas lhe ofereciam, passaram grandes nomes do toureio. Um dos mais conhecidos é o matador Vítor Mendes. E também José Simões, José Falcão, Óscar Rosmano. Pelas mãos dos irmãos Badajoz passou também Ricardo Chibanga, por exemplo. “Os toureiros que formávamos chegavam a Espanha e cortavam logo orelhas. Na primeira actuação o José Simões cortou três. Não é como hoje”, diz Manuel. E há mais coisas que não são como hoje e que desgostam os famosos bandarilheiros. “Há alguns colegas mais novos aparecem nas corridas sem apresentação. Isso não os dignifica a eles nem dignifica o espectáculo. A tourada é um cerimonial. Um ritual. E nas cerimónias é obrigatória uma postura diferente da postura do dia a dia. Aquele momento requer solenidade e aprumo.”, explica.São os dois do Benfica, talvez pela cor do sangue que muitas vezes viram escorrer-lhe pelo corpo em centenas de cornadas. António mostra uma cicatriz a toda a altura do braço. Manuel aponta para a perna esquerda recordando o dia em que um toiro lhe arrancou o músculo. “As tareias foram tantas que nem me lembro da maior parte”, salienta António Badajoz. Os irmãos Badajoz marcaram a tauromaquia portuguesa e continuam a ser recordados apesar de terem abandonado as praças há mais de dez anos - António retirou-se em 5 de Setembro de 1991 e Manuel em 11 de Outubro de 1992 depois de ter sido operado ao coração. António Palmeiro

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