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Recuperar pedreiras abandonadas

Recuperar pedreiras abandonadas

Trabalho feito dá origem a um guia

Quando o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros foi criado existiam dezenas de pedreiras abandonadas. Enormes buracos numa zona protegida. Cerca de 90 por cento já foram recuperadas. O trabalho feito foi registado e transformado num manual.

Três anos depois a vegetação tenta romper por entre as pedras e a terra castanha avermelhada. Nos cinco hectares onde existiam vários buracos para a extracção de pedra há agora um manto de inertes provenientes dos desperdícios da exploração de rocha calcária, que nunca tinha sido licenciada e foi abandonada. Situa-se perto de outras pedreiras autorizadas e em laboração da zona de Alcanede, Santarém. E é a maior que o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) recuperou nos últimos anos.Os trabalhos de recuperação paisagística da zona conhecida por “Pia do Zé Gomes” foram executados em 2003 numa gigantesca operação de terraplanagens que conseguiu devolver o relevo natural. Devido à sua dimensão teve que ser feito um projecto. E houve o cuidado de recuperar uma pia que servia para o gado ir beber água, agora rodeada por um muro de pedras empilhadas com um portão de ripas de madeira. Também foram preservados dois algares existentes no local, mantendo-se a abertura de acesso aos mesmos. O esforço de recuperação das áreas degradadas do parque iniciou-se em 1995. Até agora já foram tratadas 176 pedreiras. Entre 1995 e 1999 o PNSAC “tapou” 120 hectares de explorações de pedra para calçada. E entre 1998 e 2000 foram recuperados 35 ha de pedreiras de laje e de 2001 a 2004 foi intervencionada mais uma área de 21,5 ha. Algumas destas operações fazem parte de um “Guia para a recuperação de áreas degradadas”, lançado recentemente pelo parque. As intervenções foram feitas com recurso a financiamento ao abrigo do Programa Operacional do Ambiente e com a colaboração da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste. Quando o parque foi criado, em 1979, grande parte das pedreiras não estavam licenciadas e foram abandonadas pelos seus exploradores. Deixando graves problemas de impacto visual e ambiental nas mãos da direcção do PNSAC. Em cerca de noventa por cento dos casos, o parque nunca conseguiu encontrar os responsáveis e teve que assumir a recuperação dessas áreas degradadas que se situavam normalmente em terrenos baldios geridos por juntas de freguesia ou por compartes que os alugavam aos extractores. Ao mesmo tempo que tratava dos impactos nos terrenos de onde se retiraram os blocos de calcário, o PNSAC tratou de evitar que fossem cometidos novos abusos. E em 1988 passou a ser obrigatório os exploradores apresentarem um plano de recuperação paisagística a ser aprovado pelo parque e a deposição de uma garantia bancária para custear os trabalhos no caso do dono da pedreira não cumprir. O “Guia para a recuperação de áreas degradadas”, constitui por isso um contributo, através da experiência adquirida, para a adopção das medidas e acções mais adequadas na recuperação das pedreiras. Um instrumento útil para projectistas e exploradores quando planeiam e executam uma intervenção paisagística nas pedreiras. No livro com 131 páginas, são apresentados exemplos de recuperações, com fotografias, projectos, desenhos e cartas topográficas. O tipo de vegetação plantada nas zonas, as técnicas de sementeiras possíveis, as espécies que podem ser utilizadas. Existem ainda várias fichas de pedreiras recuperadas pelo PNSAC que descrevem a metodologia aplicada em cada caso, a descrição dos trabalhos efectuados, e a análise e comentários às operações executadas. O guia faz ainda a caracterização do território do parque, que abrange 38.900 hectares distribuídos por sete concelhos: Santarém, Alcanena, , Ourém, Torres Novas, Rio Maior (distrito de Santarém), Porto de Mós e Alcobaça (distrito de Leiria).O PNSAC é rico em vegetação rara. A natureza do solo propicia a existência de formações cársicas raras como algares, poldjes, campos de lapiás ou vales, férteis em temas espeleológicos. O coberto vegetal das serras é marcado pela presença de pequenas manchas de carvalho cerquinho ou a azinheira. É também onde se dão bem plantas autóctones, como as aromáticas, medicinais e melíferas. A fauna é constituída por aves como a Gralha-de-bico-vermelho, com hábitos de nidificação cavernícola e uma dezena de espécies de morcegos, entre outras.
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