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Firmeza é a palavra de ordem

Anabela Cadete vive diariamente os problemas sociais dos outros

A vida profissional dos assistentes sociais é feita de decisões, que raramente merecem o consenso de quem está de fora. Anabela Cadete tem consciência disso e tenta agir sempre com justiça e firmeza.

No ano em que assinala vinte anos de carreira, Anabela Cadete orgulha-se de poder dizer que nunca se arrependeu de uma decisão que tenha tomado. Um mérito que atribui ao empenho e envolvimento pessoal que sempre dedicou à profissão. Assistente Social por vocação, sabe que nem sempre é fácil optar entre retirar um filho aos pais ou acreditar que tudo vai correr bem, evitando que a criança seja encaminhada para uma instituição. Mas garante que, com bom senso, facilmente a dúvida se transforma em certezas. Especialmente quando se tem em linha de conta que o objectivo é salvaguardar o bem-estar da criança.Logo que terminou a licenciatura, em 1986, foi convidada para fazer parte da equipa de Serviço Social do Hospital de Torres Novas. Hoje é coordenadora dessa valência. Uma função que acumula com as funções de assistente social, que desempenha no serviço de pediatria. “Quando a criança é internada, é analisado pela equipa todo o seu contexto clínico, familiar e social. E sempre que se detecte uma situação que possa colocar em causa a saúde ou o bem-estar daquela criança, é pedida a intervenção do Serviço Social”, explica Anabela Cadete.É nessa altura que a assistente social entra em acção. Depois de avaliar o seu processo, decide que tipo de intervenção deve ser levada avante. Muitas vezes, o papel de Anabela Cadete passa apenas pelo diálogo com os pais ou tutores da criança: “Se é preciso um abono ou um subsídio, é preciso explicar aos pais o que devem fazer, e encaminhá-los para o sítio certo. Se há crianças que não têm as vacinas em dia ou faltam às consultas de desenvolvimento, é preciso sensibilizar os pais para essa responsabilidade”.Mas nem todos os problemas são assim tão simples de resolver. No caso das situações de maus tratos, os procedimentos são outros. E não passam apenas pela intervenção da assistente social, como explica Anabela Cadete: “Nessas situações o meu papel passa por articular esforços com a Segurança Social, os tribunais, as comissões de protecção de menores e com os serviços da comunidade. Em conjunto, analisamos o processo em questão e decidimos o que deve ser feito para que a criança venha a ter um futuro mais agradável e risonho”.Hoje em dia, segundo Anabela Cadete, essa articulação entre os diferentes serviços de apoio social até nem corre mal. Normalmente, em poucos dias consegue-se uma resposta para o problema. Mas nem sempre foi assim: “Assisti a casos de crianças que ficaram internadas durante vários anos no Serviço de Pediatria, porque não se conseguia encontrar uma instituição ou uma família que as acolhesse. Mas desde há cerca de dez anos as coisas têm vindo a melhorar gradualmente”.Por outro lado, a imagem que a opinião pública tem dos técnicos de serviço social, é que parece não querer ver melhores dias. Na opinião de Anabela Cadete, ainda existe uma visão desvirtuada da profissão. Que entende os assistentes sociais como “o lobo mau que vai retirar as crianças aos pais”.“Não é de todo assim, mas é essa a ideia que passa. Nunca vi um filme ou uma telenovela em que a assistente social tivesse um papel íntegro, em que eu me retratasse. A ideia é sempre a de alguém que não sabe aquilo que está a fazer, que não cumpre o que deveria ser feito, ou faz o que não deveria fazer”, lamenta a assistente social.É que a vida profissional dos assistentes sociais é feita de decisões, que raramente merecem o consenso de quem está de fora. Anabela Cadete tem consciência disso. Assim, resta-lhe agir com a firmeza de quem sabe o que o que faz e actuar conforme o que acredita ser o melhor caminho a seguir. “Há decisões que não são fáceis de tomar, por isso é preciso ter a certeza de que estamos a fazer o melhor para salvaguardar a saúde, a segurança e o bem estar das crianças. A primeira coisa que faço, é pensar no que gostava que me acontecesse se determinada situação se passasse comigo”.Por isso, independentemente da área em que um assistente social exerce a sua profissão, Anabela Cadete considera que não há como fugir a determinadas regras: “Primeiro tem de gostar muito do que faz. Depois, tem de ser muito responsável, agir com firmeza e isenção, e ter sempre em mente o objecto da sua intervenção. Sobretudo tem de ter uma grande coerência de espírito”. Carla Paixão

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