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Conviver com a ternura dos oitenta

Conviver com a ternura dos oitenta

Olga Capão é a directora do Centro de Dia do Vale do Paraíso, Azambuja

A técnica superior de serviço social Olga Capão tem apenas 29 anos mas já se sente um pouco mãe do Centro de Dia de Vale do Paraíso, concelho de Azambuja. Há mais de um ano que dirige a casa onde convivem alegremente senhoras e cavalheiros. Dos 70 aos 80.

Sete senhoras bem dispostas, na casa dos 80, ocupam as cadeiras perfiladas do salão da Junta de Freguesia de Vale do Paraíso, Azambuja. É lá que estão expostos os trabalhos de costura e croché das utentes da Associação do Centro de Dia Para a Terceira Idade Nossa Senhora do Paraíso. As seniores, orgulhosas, ora mostram os produtos aos visitantes, ora repousam sentadas de mãos sobre o colo. Sempre sob o olhar atento da directora da instituição.A técnica superior de serviço social Olga Capão tem apenas 29 anos, mas já se sente um pouco mãe do Centro de Dia de Vale do Paraíso, concelho de Azambuja. Foi a grande responsável pela organização da casa desde o início contando sempre com o apoio da direcção. “Ajudei a criar as raízes da instituição. Ainda nem havia móveis nessa altura”, recorda.Foi preciso preparar tudo para que a casa estivesse pronta a abrir a 19 de Setembro de 2005. Assim aconteceu. Olga Capão entrevistou os idosos para fazer as fichas, elaborou regulamentos internos, quadro de pessoal e efectuou entrevistas às funcionárias. Foi um trabalho exaustivo, mas gratificante.“Foi preciso fazer o levantamento sobre a situação em que os idosos viviam, as doenças e tentámos até saber que tipo de profissão tiveram no passado”, explica Olga Capão.A oportunidade de trabalhar no Vale do Paraíso surgiu por acaso. Soube que a instituição estava prestes a abrir e enviou um currículo. O trabalho que já tinha desenvolvido com idosos funcionou como uma mais valia para a direcção. Há mais de um ano que a sua vida é feita entre o centro e Santa Iria da Azóia, Loures, onde reside.Acorda por volta das 07h30 para apanhar o comboio até à Azambuja. É a carrinha da instituição, que faz a recolha dos idosos dos casais mais distantes, que a vai buscar à estação de Azambuja. O dia começa às nove da manhã e prolonga-se normalmente até às 17h00. Em alturas de reuniões ou épocas festivais o horário estende-se. Por vezes trabalha-se até mais tarde e ao fim de semana. Como irá acontecer este fim-de-semana por causa da exposição de trabalhos. Um dos maiores entraves à realização de actividades é a alta taxa de analfabetismo. A esmagadora maioria não sabe ler ou escrever. As caixas de medicamentos riscadas com bolas e traços denunciam-no. Muitos pegaram pela primeira vez na caneta e aprenderam a escrever o nome. Outros consideram que é demasiado tarde para a escola. Olga Capão já nota o desgaste ao longo do último ano. “Há pessoas que levaram uma vida de trabalho e isso reflecte-se agora”, garante.Para ultrapassar a iliteracia joga-se com cores e com objectos. Quando um novo utente integra a comunidade do centro é recebido com o jogo “Quem é ele?”. Mas os consensos nem sempre são fáceis. “Nestas idades por vezes fazem birras. É como que voltassem a ser crianças outra vez”, elucida.Os lugares ocupados ao pequeno-almoço e durante os jogos são sempre os mesmos. A antiguidade é quase um posto na instituição. “Quase todos tem o lugar cativo e não abdicam dele. Quando se chateiam ameaçam que vão embora, mas acabam por voltar sempre”, garante Olga Capão.Além dos jogos também há quem ocupe as horas do dia a fazer renda ou a ler. Mas o último grito das actividades é mesmo o bingo a que Olga Capão os habituou nas últimas semanas. “Alguns até deixaram de ir a casa dormir a sesta para jogar”, diz com humor. Ana Santiago
Conviver com a ternura dos oitenta

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