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Requiem pelo Ribatejo

Com o surgimento das C.Us (“chico espertismo” destinado a tornear o chumbo da regionalização) rapidamente se agregaram dois núcleos prototípicos; as, assim denominadas, Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo (CULT) e do Médio Tejo (CUMT) dominadas, respectivamente, pelo PS e PSD

Região criada em condições conjunturais muito peculiares, o Ribatejo tem sido, nas últimas décadas, campo de acção privilegiado de todos e mais alguns interesses políticos e partidários.Tacitamente repartido por socialistas e sociais democratas, começou por dar origem a duas Regiões de Turismo (dito de outra maneira, a um conjunto de “tachos” em duplicado) a que se seguiram, no mesmo contexto, duas Associações de Municípios, exemplificadoras, qualquer delas, das áreas de influência que se tinham vindo a consubstanciar. Com o surgimento das C.Us (“chico espertismo” destinado a tornear o chumbo da regionalização) rapidamente se agregaram dois núcleos prototípicos; as, assim denominadas, Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo (CULT) e do Médio Tejo (CUMT) dominadas, respectivamente, pelo PS e PSD, mesmo que nesta última a estratégia tenha incluído uma peculiar sedução dos municípios socialistas de Torres Novas e Abrantes, sem os quais a zona do Médio Tejo perderia a dimensão mínima vital para se assumir como Comunidade Urbana.E a justificação do injustificável tem atingido foros de delírio com, por exemplo, o inevitável Miguel Relvas (conhecido regionalmente como “o coveiro do Ribatejo”) a apontar o Tejo, não como linha aglutinadora (que sempre foi) de todo o Vale do Tejo, mas sim (veja-se só), como linha separadora inexorável das duas áreas regionais.Na verdade, é este um processo em que, na verdade, tem imperado a hipocrisia!Processo de que os maiores responsáveis são os dois maiores partidos nacionais (e, naturalmente, regionais) e que, por inconfessáveis interesses conjunturais, tem passado, igualmente, pela sucessiva agregação do Ribatejo, às Comissões Regionais do Alentejo ou de Lisboa e Vale do Tejo, num percurso gradual e cumulativo de desagregação das sinergias regionais.E se o incómodo da classe política regional quando confrontado com o assunto é por demais evidente, na prática todos se vão ajeitando face aos novos condicionalismos e tentando tirar, daí, o maior proveito possível.A actual conflitualidade entre Santarém e a CULT é apenas mais um episódio deste processo, resultante agora da eleição de Moita Flores em Santarém. Desalinhado (resta saber se, “ainda desalinhado”) a sua postura terá sido “um pauzinho numa engrenagem” até aqui bem oleada.E, enquanto isso acontece, e as CUs comprovam reiteradamente corresponder essencialmente à transposição para um nível mais elevado de poder dos vícios e compadrios autárquicos, incrementados estes, ainda, pela ausência de fiscalização institucional e avaliação eleitoral, persistem, aqui e ali, iniciativas diversas como o Congresso do Ribatejo ou o mais recente Congresso do Tejo, cujas conclusões operativas, sejam elas quais forem, soam frequentemente a falso quando não a patético, já que exigem, naturalmente, solidariedades e coesões de âmbito alargado, há muito irresponsavelmente esbanjadas!E como quem nelas participa não é, necessariamente, pateta (pelo menos alguns) quer isso dizer que os mesmos alinham, aí, numa lógica recorrente de “faz de conta”, que seria, aliás, hilariante, se não fosse tão gravosa.Surgem assim, propostas como a de Pedro Canavarro sugerindo mudar o nome do Ribatejo para “Tejânia”, já que, argumenta, existem muitas pessoas do norte da região que não se reconhecem na actual denominação (e porque diabo é que se haveriam de reconhecer em “Tejânia”?!), e que apenas a seriedade intelectual do autor, permite, de alguma forma, levar a sério!Ou ainda a sugestão da criação de “um lobby regional”, por parte do vice-presidente da Câmara de Santarém, Ramiro Matos!Parafraseando o impagável Diácono Remédios: Ó meu amigo! O que não falta no Ribatejo são lobbys regionais! Aliás, o problema é precisamente esse!Acredite! Nós não precisamos de um lobby regional! Precisávamos, sim, “do lobby regional”!Mas esse, há muito tempo que o inviabilizámos!Aurélio Lopes

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