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Homicida aos 85 anos

Conflitos antigos entre dois idosos acabam em tragédia em Casal da Arranjela

A face do idoso morto com uma forquilha e um pau por um vizinho ficou irreconhecível. O homicida entregou-se na GNR de Alcanena onde confessou o crime.

É difícil imaginar como é que um homem de 85 anos consegue ter força para matar alguém nove anos mais novo, deixando-o irreconhecível. Mas só para quem não conhece Manuel Carvalho, o homem que na tarde de sexta-feira matou o vizinho Rogério Silva à paulada e com uma forquilha. Uma cena passada a cerca de cem metros das casas onde viviam, em Casal da Arranjela, Alcanena. “É um homem cheio de força, que não aparenta a idade que tem”, referem alguns moradores da zona.Vestida de preto, a família de Rogério Silva vela o seu corpo na capela da nova Igreja de Alcanena. A urna está fechada e irá manter-se assim até o final do funeral, realizado na tarde de terça-feira.“É impossível abrir o caixão”, diz Rogério Paulo, genro da vítima, adiantando ter ficado ele próprio desorientado quando viu a face do sogro, no gabinete de medicina legal de Tomar. Estava irreconhecível devido à acção repetida da forquilha e do pau, armas utilizadas por Manuel Carvalho.O homicida entregou-se voluntariamente na GNR de Alcanena, confessando o crime e mostrando aos homens da guarda onde se encontrava o corpo. O crime aconteceu por voltas das 15h30 mas só às oito da noite as famílias tiveram conhecimento. “Sabíamos que tinha havido uma morte mas a GNR não nos deixou aproximar do local”.As famílias dos dois homens viveram juntas a angústia da notícia. Porque quer um quer outro ainda não tinham chegado a casa. “A vítima tanto podia ser um ou outro”, refere o filho mais novo de Rogério Silva. “Há 20 anos que andavam às avessas, já tinha havido ameaças verbais mas nunca pensámos que chegasse a este ponto”, confessa Mário da Silva, lembrando que as desavenças entre o pai e o vizinho se agudizaram há dois anos, após Manuel Carvalho ter aberto uma serventia no terreno de Rogério Silva.O mais velho prisioneiroApós ter sido detido pela guarda e levado pela Polícia Judiciária para o Tribunal de Torres Novas, para primeiro interrogatório, Manuel Carvalho recolheu ao estabelecimento prisional da cidade, onde aguardará o julgamento.Com 85 anos é o preso mais velho que o estabelecimento já recebeu. Juntou-se a outros dois idosos homicidas, detidos também por crimes relacionados com rixas. Como o homem de Martinchel, que já ultrapassou também a fasquia dos 80 anos, que matou um pescador por este estar a pescar em terrenos seus. “Nestas idades os crimes mais frequentes prendem-se com questões passionais e com desavenças sobre terras”, confirma a directora da prisão de Torres Novas, Anabela Guerreiro.Manuel Carvalho incorre numa pena de prisão de 12 a 25 anos. Que deveria ser agravada pelo facto de o homicídio ter sido alegadamente premeditado. Mas que deverá ser atenuada por quem o julgar, devido à sua idade avançada.“Espero nunca mais ter de me cruzar com ele”, refere o genro da vítima, acrescentando no entanto nada ter contra a família do agressor. E até já mandaram a mensagem de que os filhos do agressor podiam ir ao funeral. “Não têm a culpa do que o pai fez”.Margarida Cabeleira

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