Aliança encanta 40 anos depois
Orquestra da velha guarda encheu Centro Cultural de Samora Correia
O Centro Cultural de Samora Correia encheu-se de emoção numa noite marcada pela saudade dos bons velhos tempos do Conjunto Musical Aliança.
“Minhas senhoras e meus senhores, muito boa noite. Este é o conjunto musical Aliança de Samora Correia”. Foi desta forma, a mesma que usou há 40 anos, que José Duarte Martins saudou o público que encheu o Centro Cultural de Samora Correia na noite de 4 de Outubro. Cinco dos sete músicos voltaram ao palco 38 anos depois da última actuação na passagem de ano de 1968 em Castanheira do Ribatejo.“Provavelmente será a última vez que nos vão ouvir”, explicou José Martins depois de apresentar os músicos que o acompanharam. Seguiu-se uma série de êxitos de sempre com ritmos variados. Mambo, passodoble, bolero, fox rock e os tradicionais viras: Sete e Pico e Senhora de Alcamé.Este último com direito a repetição. É uma moda que fala de Samora e da devoção à padroeira dos campinos e lavradores. Foi cantada com emoção por todo o público. Na plateia, Justino Machado gritou: só falta as “damas ao bufete”, utilizando uma expressão característica nos bailes dos anos 50 e 60.Foi uma noite memorável, cheia de emoções. Algumas partilhadas com a nossa reportagem “Lembro-me tão bem de dançar no largo do Arneiro as músicas que eles tocavam”, recordou Rogério Pernes. À saída, os mais velhos contavam episódios marcantes vividos em redor do conjunto que marcou uma época.“Éramos nós, o Figueira Padeiro de Alpiarça, o Níger de Torres Novas e os Vagabundos do Ritmo de Évora”, lembra o maestro António Pederneira. Com 80 anos, já lhe falta o fôlego para tocar trompete, mas mostrou que ainda é mestre no vibrafone (ex-libris do grupo) e no contrabaixo de cordas.“Este vibrafone custou 18 contos e foi comprado a muito custo com o dinheiro das actuações”, frisou Henrique Cardoso. O saxofonista, com 80 anos, recorda que o conjunto musical andou por vários pontos do país e foi privativo em “casas de classe” como a Estalagem do Gado Bravo e o Aposento do Barrete Verde, em Alcochete. “Tínhamos um público fiel que nos acompanhava”, acrescenta José Martins.O vocalista conquistou o lugar numa selecção realizada num baile em Samora Correia onde teve como adversários Laurentino Ferreira (já falecido) e Celestino Cunha, que assistiu ao concerto. A ideia de recuperar o Aliança, 38 anos depois da última actuação, partiu de Júlio Pereira, amigo dos elementos do grupo e um dos músicos convidados. O trompetista não escondeu a emoção que sentiu pela reacção do público. “Valeu a pena”, comentou. A preparação do concerto, que foi adiado várias vezes, foi marcada por várias dificuldades. “Faltou alguma boa vontade de algumas pessoas”, lamenta Henrique Cardoso. Mas a noite foi de festa e as ovações fizeram esquecer o mal entendido.O Aliança iniciou a sua actividade no Carnaval de 1952 no Celeiro da Moagem em Samora Correia e ao longo de 38 anos registou centenas de actuações, algumas ao lado das estrelas do momento, como atestam os programas expostos na galeria do Centro Cultural. “É uma honra para a nossa freguesia. Queremos agradecer a forma como a projectaram porque sempre se apresentaram como o Conjunto Musical Aliança de Samora Correia”, referiu o presidente da junta de freguesia, Hélio Justino, na entrega do medalhão da freguesia a todos os músicos.Dos que estiveram na última actuação só faltou Fernando Leite (falecido) que foi substituído por José Vicente Perinhas (saxofone). Felismina Pederneira (órgão e piano), António Pederneira (contrabaixo de cordas e vibrafone), Henrique Cardoso (saxofone) José António Oliveira (bateria) e José Duarte Martins (voz) mostraram que têm a música na alma e, mesmo sem o rigor de outros tempos, ainda têm muito para dar.Num gesto de gratidão, o vocalista recordou outros músicos que passaram pelo Aliança e que já faleceram. Carlos Paulino, Eduardo Ferreira, José Bona, João Serrano, Luciano Moreira e Ulisses Serrano. Um dos espectadores, João Vinhas, acrescentou-nos que Perpétua Serra também foi vocalista do Aliança. A menina que encantou nos anos 50 e 60 está a viver o Outono da sua vida no lar Padre Tobias e, por razões de saúde, não esteve nesta noite de saudade. Nelson Silva Lopes
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