“Não tenho perfil para ser político”
Um militante do PSD que trabalha para um autarca socialista
Foi durante dois mandatos vereador do PSD na Câmara de Santarém, função que desempenhou até final de 1997. Nunca teve vontade de voltar à política activa?Fiquei desiludido. Percebi que para aquele tipo de política não tinha vocação.E que tipo de política era esse?De conversa da treta. Gosto mais de me situar ao nível da prática e de mexer com as coisas. Mas acho importante o trabalho de um autarca. Só que não me vejo com perfil adequado ao desenvolvimento desse tipo de funções. Provavelmente na altura também era um tanto impulsivo, era muito intempestivo, muito frontal. Depois disso ainda chegou a ser eleito para a assembleia municipal, no anterior mandato, mas acabou por abandonar esse órgão…Pedi a suspensão do mandato por razões académicas.As saudades da política não são muitas…Acho que outros cidadãos desempenham melhor esse papel do que eu.Continua militante do PSD?Continuo.Participa na vida interna do partido?Muito pouco. Faço agora parte do gabinete de estudos da concelhia. Tem uma dimensão mais técnica e é importante que as pessoas possam dar contributos a esse nível. Já deu alguns conselhos a este executivo sobre questões na área do desporto?Já dei alguns contributos. Pediram-me para organizar um seminário sobre as políticas locais precisamente dentro dessa orientação. Dando pistas, orientações que podem ser suportes para decisões políticas. Eu não tenho perfil para ser político.É por ser sobretudo um técnico que não teve problemas em vir trabalhar para Rio Maior, com um presidente de câmara socialista?Não tive problema absolutamente nenhum. Nem há confusão nenhuma. Nunca houve nenhuma discussão ou problema. Nem eu fui origem ou causa de qualquer problema. Há uma dimensão técnica e uma dimensão política e as pessoas são suficientemente inteligentes para se enfrentarem nos seus respectivos lugares.“A política da banha da cobra acabou”Festejou a vitória do PSD em Santarém nas últimas autárquicas?Saí à rua. Passei pelo Largo do Seminário. Mais tarde ou mais cedo isto teria de acontecer.Ficou com grandes expectativas para este mandato?Fiquei com algumas expectativas, mas que têm de ser enquadradas na dimensão dos encargos que já se previa que fossem grandes e que depois se veio a saber que ainda eram maiores. Está a referir-se à dívida da Câmara de Santarém?De facto a Câmara de Santarém é um caso dramático em termos de sobrevivência para dar resposta às necessidades do concelho. Estamos numa encruzilhada muito grande. Olha-se para o concelho de Rio Maior, que não tem nem de perto nem de longe uma dívida como o de Santarém, e as aldeias já têm todas saneamento básico. As questões das infraestruturas estão resolvidas. Em Santarém temos ainda passos gigantescos a dar nesse domínio.A vida deste executivo não está fácil.O eleitorado votou em determinada expectativa e se o executivo não corresponder na próxima eleição votará noutra equipa. Tenho a noção de que a fasquia foi colocada bem alta. Por isso mesmo prevejo grandes dificuldades para a câmara, com os recursos e os encargos que tem, atingir esses objectivos. Mas a anterior equipa da câmara tem que assumir a sua quota enorme de responsabilidade.Acha que não o tem feito até agora?Não com a frontalidade que deveria. Tem que haver pactos de regime nas câmaras municipais quando há problemas desta dimensão. Não é para melhorar a imagem de um ou outro partido. É para melhorar as condições dos munícipes. E há ainda o impasse causado pelo facto de a oposição ter maioria absoluta. Discordo deste modelo de gestão e temos de partir para outro onde a política seja feita na assembleia municipal. Quem ganha governa e escolhe a sua equipa. O executivo é para executar políticas.A forma de fazer política também deve mudar?Estamos a dar saltos enormes na forma de pensar dos cidadãos relativamente aos seus responsáveis políticos. Os cidadãos têm cada vez mais consciência que a banha da cobra já não resolve o problema. Os cidadãos começam a ficar desconfiados dos políticos que têm soluções para tudo. A política que vai vigorar no próximo futuro é a política do realismo, da resolução de problemas. A política da banha da cobra acabou.Moita Flores tem correspondido às expectativas?Tem. Mas percebo perfeitamente que as limitações no quadro financeiro da autarquia são dramáticas. Não sei como é que a Câmara de Santarém vai sobreviver sem a entrada de receitas. A próxima Lei das Finanças Locais vai ser um aperto. É a política do realismo. Acabou a treta, acabou a banha da cobra. Concordo com a maior parte das medidas que este Governo, que é de um partido diferente do meu, está a tomar. O PSD teve oportunidade de as tomar e não as tomou.
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