Pais têm de pôr os filhos a praticar desporto
Albino Maria é um dos autores do programa de enriquecimento curricular adoptado pelo Governo
Foi um dos autores do estudo que deu origem à vertente desportiva do programa de enriquecimento curricular que o Ministério da Educação adoptou neste ano lectivo. Como é que surgiu essa oportunidade?Eu e o dr. Manuel Nunes, que é vice-presidente da Associação de Futebol de Leiria e chefe da Divisão de Desporto da Câmara de Rio Maior, fomos desafiados pelo dr. Silvino Sequeira, enquanto membro da Associação Nacional de Municípios com responsabilidade do desporto, para produzir um documento que pudesse servir de orientação para a implementação de actividades físicas e desportivas. Isso redundou numa reunião com a ministra da Educação onde ela nos solicitou a elaboração de um documento base que pudesse servir de orientação para o desenvolvimento das actividades físicas e desportivas.Considera que se tem investido pouco nesse capítulo?Não faz sentido um país ter os melhores estádios de futebol do mundo e não ter resposta para as actividades físicas e desportivas das crianças do 1º ciclo. É a mesma coisa que eu comprar um carro topo de gama, investir todos os recursos que tenho nesse carro e depois não ter dinheiro para comprar alimentos para os meus filhos. Isso é uma grande incongruência. Esse programa vem resolver a incongruência de que fala?Não. Isto não é o ideal. Estamos ainda a tratar da parte das actividades de enriquecimento curricular quando o que devia acontecer é que a educação física fosse abordada no âmbito curricular. Porque faz parte dos programas e não o é ou é muito pouco.Com as escolas que temos não é fácil…Então temos de mudar as escolas que temos no 1º ciclo. A escola da sala de aula, do pátio com duas ou três árvores, foi para um determinado tempo que já passou. Nessa altura o que estava em causa era saber ler, escrever e contar. Hoje, os cidadãos, na sua formação, têm de estar preparados desde a origem para as necessidades globais. E aí temos de falar nas tecnologias da informação, do desporto, da cultura, e de uma língua para além da língua mãe.São as consequências de vivermos numa sociedade diferente…Esta questão há 30 anos não se colocava. Andávamos quilómetros a pé, subíamos e descíamos as árvores, corríamos atrás uns dos outros e íamos para o rio. Televisão? Só víamos televisão a partir das oito da noite! Play-stations? Computadores? Não havia nada disso. O contexto é totalmente diferente nos nossos dias. Não vamos retirar as crianças do computador, mas tem de haver uma área fundamental que é o seu desenvolvimento físico.Aconselha os pais a colocarem os filhos a praticar desporto logo desde pequeninos?Há alguma vivência mais profícua do que a vivência de uma criança numa equipa, seja ela de desportos colectivos ou individuais? No aprender das regras. No aprender a respeitar o adversário. Na disciplina do treino. No trabalhar para atingir objectivos de futuro… O desporto é uma escola de virtudes na sua essência. O que não tem nada a ver com o espectáculo medonho e horrendo dos dirigentes desportivos analfabetos que andam a degladiar-se nas televisões. Um pai que não tenha esse tipo de preocupações está a negligenciar o desenvolvimento do seu filho.Presumo que não seja um especial adepto do investimento público que se fez para o Euro 2004…Não. Fui um crítico. Por muito bom desempenho que o nosso país tivesse no Euro – e teve – têm de me provar que aquele investimento financeiro na construção de estádios foi melhor do que teria sido se tivesse sido usado em novos modelos de escolas, em que daqui a 15 ou 20 anos teríamos um retorno muito mais importante para o país. Se me provarem isso peço desculpa.
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