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A menina do clarinete

A menina do clarinete

Ana Rita Pratas sonha com uma grande carreira
Aos 19 anos Ana Rita Pratas viaja pelo país e pelo mundo tendo como cartão de apresentação o seu clarinete. A Jovem do Cartaxo concluiu o curso complementar de clarinete da Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa com 18 valores e o seu talento tem-lhe valido convites para protagonizar recitais, juntar-se a orquestras, frequentar cursos internacionais com professores afamados. Em breve Ana Rita vai ser professora e ministrar aulas de educação musical nas actividades de enriquecimento curricular a jovens alunos de escolas do primeiro ciclo e jardins-de-infância do concelho do Cartaxo. “Estou motivada por ir fazer este trabalho com os mais novos e planear a forma como vou dar as aulas”, acrescenta.Ana Rita tocou na Orquestra do Algarve e integrou a Orquestra Sinfónica Juvenil. Toca regularmente na Orquestra de Vale da Pinta e até dá uma mãozinha na Orquestra Típica Scalabitana quando lhe pedem. Do extensíssimo currículo, destaca um recital a solo com clarinete na FNAC, em Lisboa. Ou participação no VII Festival de Jovens Clarinetistas na Venezuela, onde tocou em Janeiro último.Aos quatro anos Ana Rita Pratas já tocava flauta na banda da Sociedade Filarmónica Cartaxense. Por “culpa” dos pais praticou ginástica e natação, andou na catequese e entrou para a música. Perdeu-se uma nadadora que chegou a ser terceira no campeonato regional por equipas pelo Clube de Natação do Cartaxo. Com oito anos estreou-se a tocar clarinete. Foi admitida com 11 anos no curso complementar de clarinete da Escola de Música do Conservatório Lisboa. A partir do quinto ano acumulou a música com o “secundário” em ensino integrado e conclui o 12.º ano com 15 valores de média. “Foi uma época dura. Saía de casa às cinco e meia da manhã, sozinha, a caminho de Lisboa e muitas vezes só regressava a casa às dez ou 11 da noite”, recorda.Do Cartaxo, terra onde nasceu, confessa ter dificuldade em desligar-se. Pelos amigos de escola, que quer preservar e continuar a ver ao fim de semana. “Há muitos jovens de valor na música e fora dela. Não há geração rasca”, sentencia. Dos antigos colegas de banda sabe que alguns seguiram a música mas que a maioria não vê aí um futuro promissor. Ana Rita tem uma ideia bem diferente e já traçou objectivos. Quer tirar uma licenciatura em clarinete e tem os olhos postos nas grandes orquestras nacionais, Gulbenkian e Metropolitana de Lisboa. Há poucas orquestras e os lugares estão ocupados mas confia que o trabalho gera oportunidades. “Gostava também de criar um grupo de música de câmara e interpretar música contemporânea. Especialmente com o clarinete baixo, um instrumento que não é muito conhecido em Portugal, com som mais grave e com formato parecido ao do saxofone”, explica.A ida para o estrangeiro chegou a ser colocada. A primeira oportunidade veio da Holanda mas foi rejeitada: “vi que não era o meu lugar”. A segunda foi um convite de um professor do Conservatório de Boston, Estados Unidos. “Em Março de 2005 solicitei apoio à Câmara do Cartaxo para estadia e alimentação mas não foi possível. Agora também já não iria”, confessa, concentrada que está em fazer a licenciatura em Portugal. Apreciadora de música popular, Ana Rita tem um fascínio especial pelo jazz, que gosta de ouvir e tocar, apesar de considerar que tem pouco jeito. Não tem muita paciência para as batidas monocórdicas em altos decibéis do “tsspum, tsspum” das discotecas. De pimbas também prescinde, mas respeita quem corre por gosto.Aparte das muitas horas diárias dedicadas ao clarinete na moradia dos pais no Cartaxo, Ana Rita Pratas gosta de ler e estar informada. Especialmente sobre a história do século XX e a II Guerra Mundial. “Leio tudo o que posso. Desde que abordei essa matéria na escola fiquei fascinada, não sei por que razão. O mesmo acontece com o século XX português e a época de Salazar”, revela. Psicologia, teatro, cinema são outros interesses. Compra livros e DVD que consome em casa. O Fabuloso destino de Amelie foi um filme de que gostou imenso. É uma apreciadora de documentários.O olhar de Ana Rita parece ingénuo. À primeira vista dir-se-ia que é introvertida. Puro engano. As palavras saem-lhe sem hesitações como se não tivesse dúvidas por onde quer caminhar. Mas é através de música que prefere comunicar com as pessoas. “Os músicos aprendem a lidar com os nervos e a interagir com o público. No palco sou uma actriz e esqueço quem sou”, conclui.
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