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Fazer brilhar o que é antigo

Fazer brilhar o que é antigo

Paulo Queimado, 31 anos, especialista em conservação e restauro
“Quem olha para isto agora não imagina o trabalho que deu”, diz Paulo Queimado, apontando para o altar em talha dourada da Igreja Matriz da Chamusca, que está a restaurar desde Maio deste ano e que ficará pronto antes do Natal. Paulo tem 31 anos, todos eles passados na vila ribatejana onde nasceu e onde permanece, dedicando todos os seus dias à sua grande paixão, a conservação e o restauro de antiguidades. Fala das peças que restaura como se fosse um médico a falar dos pacientes que trata. Enquanto olha para o altar da igreja matriz, explica que “a principal patologia estava no soalho”. O trabalho é executado por fases e exige muita paciência. A arte de restaurar já vem de família. O pai tinha, e ainda tem, uma oficina de restauro na Chamusca, e foi aí que Paulo começou a limpar as marcas do tempo das peças mais antigas. Sempre que podia, era para a oficina do pai que ia, para aperfeiçoar as suas técnicas. A certa altura decidiu que era aquilo a que se queria dedicar por inteiro. Em 2000, terminou a licenciatura em Conservação e Restauro no Instituto Politécnico de Tomar. Para além da oficina de conservação e restauro, Paulo tem também uma loja de antiguidades na Chamusca, o Baú das Memórias. A irmã, que seguiu a área da gestão, trabalha na loja. “É a gestora das antiguidades”, brinca Paulo. De uma maneira ou de outra, a família abraçou toda a mesma paixão.Paulo confessa que nunca quis ser outra coisa mas sempre gostou de Arquitectura e, nos seus tempos livres, gosta de “fazer algumas coisas em design gráfico”. Mas a maior parte do seu tempo é passado no meio das antiguidades e também das velharias que, diz Paulo, “também têm o seu encanto, sobretudo pela parte etnográfica”. “A minha vida gira à volta delas”. Das muitas peças que já restaurou, aquelas que pertencem à Chamusca são aquelas em que trabalhou com maior prazer. A forte ligação à vila leva Paulo a fazer algum trabalho em regime de mecenato. Só este ano, já fez duas: restaurou a escultura do Senhor Morto, em tamanho natural, da Igreja Matriz e a do Senhor da Misericórdia, da Igreja da Misericórdia, uma imagem que costuma sair todos os anos em procissão. A sua relação com a Chamusca não impede Paulo de apontar várias críticas à actual autarquia. “Estou um bocadinho desiludido. A gestão municipal não deixa esta terra chegar onde tem potencial para chegar”, diz. “Temos um património riquíssimo, peças únicas e parece que ninguém se interessa muito por isso”, lamenta. Paulo também é formador do CEARTE em Coimbra e coordenador técnico-pedagógico do curso de restauro da mesma instituição. Trabalha sete dias por semana e não se queixa disso. Nos poucos momentos em que se desliga das antiguidades, gosta de ver filmes “em DVD, porque nem para ir ao cinema há tempo”. Para além disso, ouve muita música, “sobretudo música moderna portuguesa”. Vê pouca televisão, “só um bocadinho das notícias à hora do jantar”. Paulo sabe que é um dos poucos jovens que resiste à falta de emprego da vila. “Do meu grupo de amigos, só três casais compraram casa na Chamusca. Éramos uns vinte. Os outros foram-se embora. Isto deve querer dizer alguma coisa”. Mas Paulo não se sente isolado: “Hoje em dia todos temos todos carro e rapidamente vamos a Lisboa ou a Coimbra”. Para além disso, não vive sem Internet ou sem telemóvel. O técnico de restauro não pensa abandonar a Chamusca. “Nasci e cresci aqui, já comprei casa, tenho cá as duas empresas, tenho cá tudo”. Mas o futuro, diz Paulo, “só o tempo o dirá”.
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