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“Nasci para cantar”

Vasco Rafael, o miúdo tímido que venceu a Grande Noite do Fado
Fato cinzento com corte clássico, uma camisa branca, gravata bordeaux, a mão direita no bolso e uma cara de maroto. É desta forma que Vasco Rafael se apresenta nas galas onde canta ao lado dos nomes mais consagrados da música. O fado é a sua paixão. Venceu a última Grande Noite do Fado de Lisboa em Dezembro do ano passado e espera regressar ao Teatro São Luiz na edição deste ano. “Eu nasci para cantar. Gosto de cantar tudo”, explica. Vasco Rafael, 11 anos, é tímido e não aprecia dar entrevistas. Confessa que fica mais nervoso quando tem um jornalista pela frente do que quando tem de enfrentar plateias com centenas de pessoas. “Chego ao palco, começo a cantar e esqueço o que está à minha volta”, refere com a segurança de um profissional, apesar de só cantar em público há ano e meio.A estreia do fadista de Porto Alto, Samora Correia foi num concurso em Marvila, berço de alguns dos melhores fadistas de Lisboa. Vasco Rafael arrecadou o segundo lugar na iniciativa da Associação Cultural do Fado de Marvila. E a partir não parou de cantar e somar troféus. O último foi no concurso de Peniche a 28 de Outubro.Tem noites em que actua em vários palcos. Quase sempre em espectáculos de beneficência a favor de causas nobres. “Gosto de ajudar quem precisa”, explica. O jovem tem sempre presente um terço que lhe transmite “segurança” e “protecção”. “Sinto-me melhor assim. Não sei explicar bem”, refere. A devoção a Deus e a Nossa Senhora de Fátima é reforçada pela mãe que acompanha a fé do jovem cantor.Vasco Rafael sempre gostou de música. Logo que aprendeu as primeiras palavras começou a cantarolar. A família gostava de ouvir fado e o rapaz começou a imitar os fadistas do momento. Sérgio Nuno, o jovem intérprete da “Lenda da Fonte”, era a sua referência. Até que um dia, a madrinha artística, Paula Teixeira levou-o para a Escola de Fado do Bairro da Chasa, em Alverca. Foi lá que Vasco Rafael descobriu os primeiros tons pela mão do mestre Jacinto Carminho. O guitarrista ensinou-lhe a cantar “afinadinho” e continua a ser o seu professor uma vez por semana. “Ele é exigente e ajuda-nos a aprender”, diz.Vasco tem um repertório limitado porque prefere cantar poucos fados e bem ensaiados. Miúdo da Rua foi o fado que lhe deu a vitória na Grande Noite. Ribatejo, Alfama e Lenda da Fonte são alguns dos poemas que também gosta de interpretar.Apesar da tenra idade, o fadista já tem um leque de admiradores que o acompanha. Na escola EB 2/3 do Porto Alto, os amigos pedem-lhe para cantar uns “fadinhos” e já conseguiu fazer com que outros o tentem imitar. As horas que dedica ao fado não lhe retiram tempo para estudar. A matemática é a sua disciplina preferida. Seguem-se a música e educação física. Vasco Rafael foi guarda-redes da Associação Recreativa do Porto Alto (Arepa), mas teve de deixar o futebol porque não conseguia conciliar aquela actividade com o fado, as danças de salão e o rancho folclórico. “Era muita coisa junta e tive de fazer opções”, explica com a ajuda da mãe que o acompanha para todo o lado. Em 2003, Vasco Rafael foi a criança escolhida para entregar ao Presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, uma petição com mais de 5000 assinaturas a reivindicar a criação do Município de Samora Correia. Estava vestido de abegão e acompanhado de uma jovem camponesa que era o seu par no rancho.Nos tempos livres, Vasco é uma criança igual a tantas outras. Gosta de jogar no computador e na Play-Station, de ouvir música e cantar nos karaokes. Apesar da grande cumplicidade que tem com o fado não descura a hipótese de cantar noutro registo como aconteceu na festa dos 40 anos de carreira de Marco Paulo em Maio. Vasco Rafael foi escolhido para cantar a canção espanhola “Campanera” imortalizada por Joselito e que foi um dos primeiros êxitos de Marco Paulo. Foi um dos melhores momentos na ainda curta vida artística de Vasco Rafael. Agora, o fadista de palmo e meio espera gravar um CD para ficar ainda mais perto do público.

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