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O piloto que quer ser engenheiro aeroespacial

O piloto que quer ser engenheiro aeroespacial

Os altos voos de Ricardo da Costa Ferreira
Quando era pequeno Ricardo da Costa Ferreira perdia horas no aeroporto de Lisboa e ver descolar e aterrar aviões. “Lembro-me que o meu pai pagava 20 escudos para podermos subir à varanda do aeroporto”, diz o jovem de Tomar, hoje com 22 anos e o curso de piloto de linha aérea acabadinho de tirar. Depois do aeroporto, desciam até à baixa de Lisboa e iam ver as locomotivas à estação de Santa Apolónia. E não raras vezes viajavam até ao Norte, para apreciar os cargueiros que atracavam no porto de Leixões. “O meu pai sempre me incutiu o gosto pela cultura, pelas viagens e pelas tecnologias”.Nasceu numa casa agrícola abastada – o pai e o avô são dos maiores produtores de vinho do concelho de Tomar – mas nunca descansou à sombra das facilidades que o dinheiro proporciona. “É uma questão de cultura e formação”, diz quem em pequeno sonhava ser astronauta. “Quem não sonha?”. “Os meus pais sempre me mostraram que se quisesse ser alguém na vida tinha de me aplicar, porque as coisas não caem do céu”. Com os progenitores viajou cá dentro e lá fora. Conhece o país de lés a lés e países dos quatro Continentes. Adora conhecer novas culturas, formas diferentes de estar na vida, mas diz que quanto mais países visita mais gosta de Portugal.Desportista desde pequeno – jogou hóquei em patins no Sporting de Tomar durante 16 anos e praticou trampolins quando ainda não existia o Ginásio Clube de Tomar – Ricardo Ferreira entrou para o clube de aeromodelismo “Os Aerocalminhas” em 1996. “Foi um amigo que me deu a conhecer o clube. Sabia que eu gostava muito de aviões…eu ainda lá estou e ele já não”. Foi através do clube que entrou na era da tecnologia aérea de ponta. Em 1998 um grupo de sócios, ele incluído, visitou o Centro Kennedy e o museu espacial, nos Estados Unidos. Ficou tão fascinado que um ano depois, no âmbito das viagens temáticas do Aerocalminhas, frequentou o primeiro curso da NASA. O primeiro porque regressou no ano seguinte. E no outro, desta vez já como monitor.Excelente aluno, Ricardo Ferreira ainda se aplicou mais para poder continuar os estudos na área que ambicionava – a engenharia aeroespacial. “Não podemos esperar que as oportunidades venham ter connosco, temos de ser nós a ir ao encontro delas”, refere o jovem. Com uma maturidade invulgar para os seus 22 anos, Ricardo Ferreira fala dos grandes defeitos da “sua” juventude, onde o despesismo dita as regras “de uma sociedade que compra, usa e deita fora”. “Hoje há demasiadas tentações, descobrem-se as coisas demasiado cedo”, reflecte, adiantando que os jovens têm pressa de viver. “Alguém lhes devia dizer que o amanhã também existe”. Interrompeu o curso de engenharia aeroespacial ao segundo ano, para tirar o curso de piloto de linha aérea, que acabou o mês passado. “Não consigo estar quieto, desde miúdo que tenho de fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo”, justifica-se. O curso de pilotagem – que custou “só” 50 mil euros numa escola privada - superou todas as suas expectativas. “Fiquei fascinado, foi o melhor passo que dei”. Enquanto aguarda pelo próximo ano lectivo para retomar as aulas no Instituto Superior Técnico, Ricardo Ferreira espera entrar para uma companhia de aviação e descolar para mais umas viagens, desta vez ao comando do aparelho.Proclama aos quatro ventos a excelência de Tomar, a cidade que o viu nascer e à qual regressa sempre que a disponibilidade o deixa, mas o que mais o incomoda é ter amigos que fazem do local onde moram e trabalham o centro do seu mundo. “Não consigo perceber esse tipo de pessoas e muitas vezes tento sacudi-las e tirá-las da redoma em que vivem, trazendo-os comigo até à minha terra”, diz a quem o maior gozo é visitar com frequência os amigos espalhados pelo país, muitas vezes de surpresa. Sobre o futuro profissional diz que irá até onde o deixarem. “Espero não ter de ir para o estrangeiro para trabalhar naquilo que gosto, parece-me que Portugal está agora a dar os primeiros passos no desenvolvimento tecnológico e científico mas ainda falta muito para ser considerado assim pelos seus parceiros europeus”. Vamos vê-lo um dia a pisar a lua? Pergunta-se e ouve-se a resposta pronta – “Acho que o primeiro astronauta português ainda não nasceu”.
O piloto que quer ser engenheiro aeroespacial

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