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Uma desenhadora que é também artista

Ana Cristina de Oliveira complementa o desenho em computador com a criatividade com que pinta telas, molda massa ou faz colares, brincos e pulseiras

Ana Cristina de Oliveira tem duas profissões, uma oficial, outra “oficiosa”. Durante oito horas por dia desenha projectos de construção civil em computador, num gabinete de engenharia na Chamusca. A outra “profissão” não tem hora definida. A bricolage – pintura, colagens, bijutaria – é feita em todos os pedacinhos de tempo de que dispõe.Nasceu em Lisboa e só aos 25 anos decidiu morar no Ribatejo, mais concretamente na vila da Chamusca, de onde os pais são oriundos. Depois de acabar o 12º ano enveredou por um curso técnico. Durante um ano Ana Cristina de Oliveira estudou desenho em Auto CAD (no computador) e nos últimos três meses do curso estagiou numa empresa de publicidade. “Não era bem o que eu queria nem fazia o que mais gostava mas aprende-se sempre”, diz a jovem, adiantando que nessa altura atravessava Lisboa inteira de transportes públicos para ir trabalhar.A vida stressante da cidade, aliada ao facto de o namorado ser natural da Chamusca, levou-a a ponderar uma mudança radical na sua vida. E em 1999 instalou-se definitivamente na vila ribatejana, já com a garantia de um trabalho na sua área. Hoje transporta para o computador os desenhos das casas particulares e dos equipamentos públicos feitos em papel pelos colegas do gabinete. Desenha a duas dimensões mas confessa que o que mais gosta é de projectar no computador a três dimensões. “Pôr as pessoas, as flores, os móveis”. Humanizar o desenho.O gosto pela segunda “profissão” nasceu muito antes da decisão de enveredar pela técnica do trabalho em computador. A bricolage que faz em casa também necessita de alguma técnica mas requer muito mais criatividade. E paciência. Todos os minutos livres do tempo de Ana Cistina são passados no sótão forrado a madeira. É ali, no meio de tintas, pincéis, massas, gessos pedras e pedrinhas que idealiza colares, brincos, pulseiras e anéis. Que pinta telas, que produz a massa para modelar e dar nova vida a todo o tipo de utensílios.Pouca gente sobe ao sótão de Ana Cristina, um lugar que funciona quase como um santuário. Em cima da mesa de madeira há pequenos sacos de plástico cheios de pedrinhas e missangas, uma joaninha feita de biscuit (massa mais maleável feita com farinha Maizena e cozida no microondas) pende de um fio. Vários trabalhos estão a meio. “Vou fazendo o que posso”, diz a desenhadora/artista, adiantando já ter muitas encomendas de trabalho para o Natal. Desde pequena que faz bijuteria, primeiro para si própria, depois para pessoas amigas que gostavam dos colares, anéis e brincos que usava. “Quando sabiam que era eu que os fazia pediam-me para lhes fazer também”. Foi assim, de boca em boca, que nasceu a sua segunda “profissão”.Uma arte que lhe ocupa todos os tempos livres. É capaz de comer à pressa para ainda fazer o gosto ao dedo durante a sua hora e meia de almoço. E raramente vai ao café por “não ter paciência para estar ali sentada”. “Às vezes penso que algumas coisas que se fazem são uma perca de tempo. Até dormir”.O que até há uns anos era um passatempo funciona agora como um complemento do vencimento de desenhadora. Ana Cristina faz parte do grupo de artesãos do Centro Nacional de Artesanato, sedeado na Chamusca, e faz diversas feiras da região. Diz que em tempo de crise, quando todos se queixam da falta de clientes, ainda vai vendendo alguma coisa. “Talvez porque as pessoas consideram que as peças não são caras”, salienta com modéstia. Ainda morava em Lisboa e já vendia trabalhos seus na Chamusca. A “culpa” era do namorado, hoje marido. “Na altura ele funcionava como meu comercial, trazia para a terra um catálogo com fotos das minhas peças e vendia aos conhecidos”, diz a rir.Pelo menos um sábado por mês Ana Cristina vai a Lisboa e “perde-se” nas lojas da baixa da capital que vendem produtos de bijuteria. “Corro-as todas até encontrar os produtos que quero”, diz, adiantando que também “espreita” as montras dos estabelecimentos que vendem os produtos já acabados. Porque estão sempre a aparecer coisas novas.O marido já se habituou às duas profissões da mulher. “Ele sabe que é disto que eu gosto”, diz, adiantando que, lá em cima, no seu “santuário” perde muitas vezes a noção do tempo. Principalmente aos fins-de-semana. “Às vezes quando olho para o relógio é que percebo que deixei passar a hora de almoço”.

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