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Retumbante Manuel Serra d’Aire

Não sei se já reparaste na acalmia que por aí vai. Passam-se semanas e semanas sem se ver por aí um ministro ou um secretário de Estado. Até eu já tenho saudades dos descerramentos de lápides para a fotografia, da corte de engravatados, do jargão tecnocrático onde as “janelas de oportunidades” e o “desenvolvimento sustentado” têm sempre lugar marcado. Dos beberetes do rissol e do croquete. Do ar atarefado de uma série de gente que não sabe muito bem o que anda a fazer. Dos carros escuros sempre em alta velocidade, por vezes com a cumplicidade dos batedores da polícia. Como se o corte de uma fita fosse a coisa mais urgente deste mundo. Como se a competência de um governante dependesse da velocidade a que circula na estrada.Os sinais dos tempos são aterradores. Só assim se explica que à inauguração do IC 3 entre Tomar e a A 23 tenham mandado um desconhecido secretário de Estado. Poder-se-ia pensar que se trata de pudor, já que a obra, a bem dizer, já devia estar feita há dez anos. Mas obviamente sabemos que não é nada disso. Se houvesse eleições nos meses mais próximos, ias ver que se batia ali meio mundo, primeiro-ministro incluído. Como não há, manda-se um secretário de Estado. E nem se dá conhecimento às redacções. Para quê? Não há votos não é preciso haver notícia.Longe vai o tempo em que as redacções eram inundadas de faxes com as agendas dos governantes quando estes se deslocavam à região. Faxes do Governo, faxes do governo civil, faxes das autarquias onde as cerimónias de desenrolavam, faxes das Estradas de Portugal. Agora, foi inaugurado o IC 3 entre Tomar e a A 23 e nem um singelo telefonema. Esta rapaziada só se lembra dos eleitores na época de caça ao voto. São uns mal agradecidos.Manel não posso deixar de comentar aquela notícia de que no Japão há estudantes a suicidarem-se para escapar às praxes. Para grandes males grandes remédios pensará o comum dos mortais. Nada disso! Cá para mim trata-se de mais um embuste. Quem é que tem vontade de viver num país onde só se vive para trabalhar e onde há malta que se contenta com uma semana de férias por ano? Se lá vivesses não pensavas, no mínimo, em cavar de lá para fora?Se queres que te diga nem sabia que os japoneses estudavam. Pensava que eles mal nasciam começavam logo a bulir, como os portugueses no tempo do Salazar. Nós a guardar cabras e a apanhar azeitona. Eles a carregar em botões e a domesticar robôs, com umas pausas pelo meio para tirar fotografias e filmar monumentos. Gente de trabalho que pelo menos não se queixa nem faz alarde. Não é como aquela casta de políticos que tanto gosta de falar dos sacrifícios pessoais e familiares em prol da causa pública. Quando os ouço vêm-me logo as lágrimas aos olhos. É comovente, embora ainda seja mais intrigante, o tempo que essa gente gasta para manter o país de pantanas. Embora tenha um mérito indiscutível: nunca desiste. A obra - como eufemisticamente é classificado o conjunto de barbaridades que foram cometendo - nunca está acabada. E para os apear do poleiro é um caso sério. Basta olhar para muitos autarcas deste país e desta região. Meus amigos, se querem trabalhar a sério vão para o Japão. E dêem o lugar a outros, porque a teta do Orçamento quando nasce é para todos.Comecei com políticos e acabo com políticos. É a lei das compensações e a velha história do Maomé e da montanha. Os políticos não vêm ao Serafim, vai o Serafim aos políticos. Ou pensavas que me esquecia deles?Um sayonara do Serafim das Neves

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