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A ascensão e queda do império J. Pimenta

A revolução de 25 de Abril de 1974 constituiu o princípio do fim do império que o jovem pedreiro saído do Souto (Abrantes) foi erguendo a pulso até se tornar num dos mais conhecidos industriais de construção civil do país. Pouca gente com mais de quarenta anos não se recordará da famosa frase “pois, pois Jota Pimenta” que identificava um dos mais famosos anúncios publicitários da época. O Jota (que se escrevia J.) é a inicial de João. Pimenta é o apelido da família humilde com raízes na freguesia do norte do Ribatejo bordejada pelo rio Zêzere.João Pimenta não esconde a mágoa e a revolta quando fala do trajecto turbulento que redundou na falência do universo J. Pimenta. O processo ainda se arrasta pelos tribunais. “Fui o homem mais roubado deste país”, desabafa várias vezes. Não aponta o dedo a ninguém em particular. Para ele os culpados são os sucessivos governos que desde 1974 permitiram que uma empresa emblemática e pujante se precipitasse no abismo.A seguir à revolução os trabalhadores tomaram as rédeas da gestão da empresa. Efectuaram saneamentos arbitrários suportados em processos sumários. Os militares assobiavam para o ar. Viviam-se tempos de turbulência, de ódio, de perseguição, difíceis de compreender à luz dos tempos actuais. A própria esposa de João Pimenta integrou a lista de funcionários e administradores a sanear. A administração era acusada de má gestão. Mas nada melhorou com a nova ordem. O Estado foi obrigado a intervir na empresa. Passou a geri-la. Viviam-se tempos de crise económica. O mercado não ajudou e a empresa nunca mais recuperou do estertor em que caíra pouco tempo depois da Revolução dos Cravos. João Pimenta não esperou muito para ver no que dava o fervor revolucionário. Em Fevereiro de 1975 já estava convencido que por cá não tinha futuro. E foi para o Brasil trabalhar naquilo que sempre fizera. Nos quatro anos que por lá esteve ergueu várias urbanizações, num total de 500 habitações. O dinamismo empresarial foi reconhecido com várias comendas expostas numa vitrina junto à recepção do Hotel Equador, em Cascais. Um empreendimento que deixou em construção quando foi para o Brasil e que teve de comprar em hasta pública para o concluir depois do regresso em 1979. É o que lhe resta do império. O local onde centrou a sua vida. Ali trabalha, come e dorme. Ali alimenta a saudade de tempos passados e rumina a revolta de quem perdeu quase tudo. Num hotel situado num bairro que ajudou a construir e que tem o seu nome - J. Pimenta.João Pimenta ainda pegou na empresa no início da década de oitenta. Mas a intervenção do Estado entre 1975 e 1979, que tinham como objectivo garantir a sua viabilidade, deixa-a com problemas graves de gestão, com dívidas contraídas à banca para pagamento dos salários. O criador tenta salvar a cria mas não consegue. O plano de viabilização proposto pelo Estado e pela banca estabelece metas inatingíveis. O mercado mudara entretanto. A concorrência multiplicara-se. O processo de falência começou em 1993 e ainda está a decorrer. O património (edifícios em construção e já concluídos, fábricas) foi quase todo vendido. Algum ao desbarato. O industrial diz que perdeu 15 milhões de contos (a valores de 1988) devido à acção do Estado, que foi alvo de uma acção em tribunal. Até à data diz que ninguém foi responsabilizado.

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