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A pessoa de trabalho e de poucas palavras

Quarta-feira, 15 de Novembro, 12h00. A recepção do Hotel Equador em Cascais está deserta. Lá fora irrompe o temporal anunciado. O vento é quase ciclónico. A chuva cai em fortes bátegas. Dirijo-me à recepção e digo ao que vou - “Tenho uma entrevista marcada com o senhor João Pimenta”. A simpática senhora inicia as diligências necessárias. Diz-me para esperar um pouco. Vou passando os olhos pelo expositor em vidro onde se acumulam placas, medalhas, objectos que marcam o reconhecimento de instituições e colectividades ao carácter benemérito do dono do hotel. O famoso J. Pimenta que nas décadas de 60 e 70 fez furor no mercado imobiliário com a construção e venda de apartamentos em vários pontos do país e em Angola.Cinco minutos depois um homem de pose altiva e cabelo branco bem penteado desce pelas escadas alcatifadas. “João Pimenta, muito prazer”, diz estendendo o braço para o aperto de mão da praxe. Confesso que não conhecia o empresário, de 81 anos. Não fazia ideia sequer da sua fisionomia. Gostei da abordagem, simpática sem ser efusiva. Discreta sem ser distante.João Pimenta não gosta de se expor. Fala o estritamente necessário. Raramente muda de tom. Controla bem os impulsos. Come pouco e à refeição bebe ice tea. No fim da entrevista e do leitão assado, quando a conversa já é meramente circunstancial, não está com meias medidas: “Já perguntou tudo? Então vamos ao trabalho”.O trabalho é o seu passatempo, diz. A leitura de alguns jornais diários e o visionamento dos telejornais são os seus momentos de ócio. Gosta de se deitar e levantar cedo. Por vezes é o primeiro a pé no hotel. Em tempos foi caçador, mas a idade amaciou-lhe os ímpetos. Hoje é incapaz de dar um tiro. “Os bichos nascem para viver. São como o ser humano. Para que é que havemos de os andar a matar?”. Os seus vícios resumem-se a dois ou três cafés por dia. Até há pouco chegava aos cinco. A cafeína não lhe transtorna o sono. “Sempre dormi bem, de consciência tranquila”.As viagens que ia fazendo ao estrangeiro são o que mais se pode aproximar do tradicional conceito de férias. “Conheci a Europa quase toda e um bocado do mundo, mas sempre a trabalhar”. O seu braço direito, Carlos Brunheta, também ele oriundo da freguesia do Souto, diz que mesmo quando João Pimenta anunciava que ia tirar uma semana de férias, ao fim de dois ou três dias já estava na empresa.Na conversa, o industrial protege a família e a sua intimidade. Vive no hotel, toma habitualmente as refeições no restaurante do empreendimento. Tem dois filhos, netos e dois bisnetos. Vivem todos na zona. “Como falo com o São Pedro, ele diz-me que só me leva quando eu tiver um trineto”, brinca. É uma das raras vezes em que solta livremente o humor. As novas tecnologias ainda não entraram nas suas rotinas. Não usa computador, nem sequer calculadora. Mas nas suas empresas sempre quis ter a tecnologia mais avançada. E quanto aos automóveis, nunca poupou. “Quem trabalha precisa de algum conforto. É natural que tivesse bons carros até para os próprios empregados”, diz.

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