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Osvaldo Ramalho é taxista há 24 anos em Vila Franca de Xira

Osvaldo Ramalho é taxista há 24 anos em Vila Franca de Xira

Um profissional do volante que por vezes se transforma em psicólogo

Osvaldo Ramalho não se vê a fazer outra coisa: adora ser taxista apesar dos riscos que a profissão comporta. O contacto com os clientes compensa alguns dissabores da profissão. Como o risco de roubo e os clientes que fogem sem pagar.

O senhor entra no táxi, cumprimenta o taxista e dá a indicação do local para onde pretende ir. A viagem inicia-se e pouco depois estabelece-se entre os dois um ameno diálogo e em breve o passageiro desconhecido confidencia ao taxista estórias tão íntimas que muitas vezes só aos desconhecidos se contam. “O ambiente num táxi é único. O espaço é isolado, ninguém nos ouve e as pessoas não me conhecem, nem eu a elas nem a ninguém relacionado”. Esta é a explicação que Osvaldo Ramalho tem para as confidências de muitos dos passageiros que tem transportado ao longo de 24 anos de profissão. As conversas, o “contacto com as pessoas – as mais interessantes, que valem pelas que não são” é o que mais “fascina” o taxista na sua actividade. No táxi de Osvaldo Ramalho não há a cadeira do consultório do psicólogo, mas há a mesma abertura para “ouvir o que as pessoas têm para dizer e dar uma palavra se elas precisarem”. Os próprios passageiros que transporta têm noção desta “dupla função” do taxista e não raras vezes o apelidam de psicólogo. Mas Osvaldo Ramalho não se fica por ouvir e “se a conversa se proporcionar sou capaz de falar de mim também”.Apaixonado pela profissão, o taxista de 45 anos diz que hoje não se vê a fazer outra coisa até porque seria incapaz “de trabalhar entre quatro paredes”. Osvaldo iniciou-se como taxista por acaso, depois de ter falhado naquilo que pensava vir a ser o seu futuro.Depois de ter concluído o nono ano candidatou-se a um curso profissional na área da electrónica por indicação dos professores, que consideravam ser essa a sua vocação. Entusiasmado fez os testes e concorreu, mas as vagas para esse ano estavam preenchidas e ficou em lista de espera. No ano seguinte foi chamado, mas para frequentar um curso “que não tinha nada a ver” e descobriu que o seu processo tinha-se perdido. “Na altura disseram-me que provavelmente tinha sido alguém que tirou o meu processo para colocar outra pessoa no meu lugar”.Sem nada para fazer, Osvaldo Ramalho começou a trabalhar com o pai que se iniciara também na actividade de taxista há pouco tempo, depois de se ter cansado do trabalho de mecânico de máquinas de grande porte. “Decidi experimentar e gostei realmente deste trabalho.” É precisamente o gosto que tem pela profissão que encoraja o taxista face aos riscos que a envolvem. Em 24 anos de actividade foi apenas uma vez assaltado, um susto que dificilmente irá esquecer, mas que conseguiu já ultrapassar.Há cerca de um ano três homens pediram que os levasse ao Cacém e se inicialmente Osvaldo Ramalho não estranhou nada, “assim que entrei na CREL percebi que ia ser assaltado, pressenti-o”. Chegados ao local um dos passageiros encostou-lhe uma arma à cabeça e pediu todo o dinheiro que trazia consigo. “Fiquei bastante nervoso, mas colaborei. Tinha sido um dia excepcional, eram quatro da tarde e tinha cerca de 200 euros e eles levaram tudo, mais o meu casaco de cabedal e dois telemóveis”. Ainda assim conseguiu ficar com 400 euros que tinha escondidos na carteira, mesmo depois de os próprios assaltantes a terem verificado.“Durante uns tempos não contei a ninguém, queria esquecer. Depois aos poucos fui contanto e partilhando o momento com os meus colegas”. Para que os desfechos dos assaltos a taxistas, “que são um alvo fácil, mas pouco rentável”, não sejam trágicos Osvaldo Ramalho diz que é importante manter a frieza e colaborar.Mesmo com os inúmeros sistemas de alerta e defesa que hoje os táxis possuem, o taxista considera que sempre haverá assaltos, porque não há métodos infalíveis. Há alguns meses o seu táxi foi apetrechado com o sistema”Táxi Seguro”, que vai desde o sistema GPS que indica o sítio onde se encontro o táxi, ao botão que emite um alerta, passando pelo SOS que surge no indicador luminoso do carro e por um rádio novo que emite o alerta em situações de risco.Para além dos riscos de assalto, há também o risco de não receber serviços que faz. Osvaldo Ramalho já perdeu a conta aos passageiros que fugiram do táxi sem pagar, e nesses casos o melhor a fazer, diz, “é ir-me embora e esquecer”. Mas há situações em que já conseguiu recuperar o dinheiro, como há três anos, em Vialonga, quando três passageiros tentaram fugir sem pagar, mesmo junto à polícia, e Osvaldo segurou um deles e arrancou com o carro até aos polícias que viram o rapaz rebolar até aos seus pés. No dia a seguir a mãe de um deles pagou-lhe o serviço.
Osvaldo Ramalho é taxista há 24 anos em Vila Franca de Xira

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