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Sagaz Manuel Serra d’Aire

Também eu fiquei surpreendido com a rebeldia tardia da deputada Luísa Mesquita. O percurso ideológico natural de uma pessoa é ser comunista até aos 25 ou 30 anos e depois começar a aburguesar-se até acabar como fascista lá para os setenta, suspirando por Salazar e maldizendo sindicatos e comunas. Eu conheço alguns exemplares assim, ou que o vão ser quando chegarem aos setenta. É só dar tempo ao tempo, esse grande mestre.Ora a nossa (salvo seja) deputada, com cinquenta e tal anos bem medidos, já não está em idades para ser compreendida e transformada em heroína pela sua obstinação. É verdade que não há idade para ser rebelde. Mas essa valentia teria ficado melhor na fotografia por exemplo aquando da queda do muro de Berlim e da falência da União Soviética. Quem não aproveitou essa oportunidade devia ser obrigado a ser comunista até ao fim dos seus dias e a trazer uma medalha com a fotografia de Estaline pendurada ao pescoço. Seja como for, aceito as justificações da deputada. A maior parte do pessoal votou foi nela, não foi no PCP. Aliás, votou nela e/ou na CDU, porque o PCP aparece sempre camuflado no boletim de voto para não espantar a clientela. E ainda compreenderia melhor o apego de Luísa Mesquita à cadeira na Assembleia da República se ela tivesse dito que preferia mil vezes conviver diariamente com umas dezenas largas de deputados do que voltar a dar aulas a uma horda de energúmenos. Depois de uma dúzia de anos no Parlamento a lidar com a fina flor do regime, quem é que tem pachorra para voltar a ser tratada por stôra e aturar adolescentes que espetam alfinetes no nariz e nas sobrancelhas? É que nestas coisas não há subsídio de reintegração que valha a uma pessoa. Quase que mais valia ser desterrada para a Sibéria…Manel não sei se reparaste mas já abriu a época oficial de Natal, tão marcante no calendário anual para muita gente como a época de caça à galinhola ou da pesca ao sável. Antes o Natal era a noite de Consoada e o dia seguinte quando se recebiam as prendas. Que nesses tempos remotos eram supostamente dadas pelo menino Jesus (hoje um ilustre desconhecido) e não pelo obeso e rubro Pai Natal. Depois havia uns dias de férias da escola, mais as filhoses e o presépio para compor a coisa. Agora é um mês inteiro de massacre com publicidade aos brinquedos para os putos, mais publicidade aos brinquedos para os adultos. No fim-de-semana passado cada jornal pesava à volta de 3 quilos, tal era o número de catálogos de sucata natalícia que traziam à boleia. Dir-me-ás tu que é o preço a pagar por vivermos numa sociedade capitalista, onde a criação de desejos pelos especialistas de marketing e a sua satisfação através do dinheiro são os mandamentos essenciais. OK. Antes isso que haver pão e carne racionados como em Cuba. Um alarve como eu que come um quilo de picanha num jantar bem regado estava literalmente feito ao bife se fosse súbdito do Fidel. Mas isso são outras contas.O que eu acho é que não há necessidade de tanto adereço para estafarmos o que temos e não temos nas compras. Eu passava bem sem essa irritante música natalícia que nos persegue nas ruas, nas rádios, na publicidade. Ao ouvi-la fico mais motivado para pagar a quem rebente com a aparelhagem a golpes de picareta do que em comprar um par de peúgas para oferecer ao meu padrinho. E o mesmo se passa com as iluminações de Natal. As câmaras não têm dinheiro para mandar cantar um cego e depois ferem-nos as vistas com tanta luz. As nossas vilas e cidades parecem Las Vegas à noite, com a agravante de não terem casinos. Com todas estas inquietações como é que um gajo pode ter um bom Natal. Eu vou tentar, mas não vai ser fácil…Saudações natalícias e beijinhos à prima do Serafim das Neves

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