Garagens da Póvoa de Santa Iria servem de estúdio a jovens músicos
Paradigma e Sannedrin são duas das bandas que esperam afirmar-se
Em garagens da Póvoa de Santa Iria ensaiam jovens músicos que sonham pisar um dia os grandes palcos.
“Um, dois, um, dois…”, testam-se os microfones. Começa mais um ensaio dos Paradigma, numa garagem na Póvoa de Santa Iria. É ali, no bairro da Chepsi, que os cinco elementos da banda se juntam há cerca de um ano, três vezes por semana. Um espaço exíguo, onde não caberia mais do que um carro, acolhe todos os instrumentos e demais equipamentos que a banda usa para ensaiar. Só naquela rua há pelo menos mais quatro bandas a ensaiar em garagens devidamente preparadas para o efeito.A garagem onde ensaiam os Paradigma pertence a Zé Leonel, conhecido por ser o vocalista da banda Ex-Votos e co-fundador dos Xutos e Pontapés. Aquele é, segundo o proprietário, “o espaço de trabalho dos Ex-Votos” que ali costumam ensaiar também. Zé Leonel cede o espaço aos Paradigma porque, diz, sempre gostou de apostar “nas bandas novas”. Nelson Matos, um dos guitarristas e co-fundador da banda, conta que tudo começou quando ele e Fábio Brito decidiram juntar-se e formar uma banda. “Não pensámos que isto fosse evoluir tanto, isto é um sonho”, confidencia Nelson. A banda está coesa há um ano mas já existe há mais tempo. “Só temos vocalista há três meses”, explica Nelson, referindo-se a Sandrine, a jovem que todas as semanas vem da Damaia para ensaiar com a banda. Os Paradigma tocam covers de músicas que todos os jovens conhecem: Green Day, Nirvana, Xutos e Pontapés… “Por enquanto tocamos covers mas queremos fazer trabalhos originais”, diz Nelson. “O problema é que, para isso, temos que ter um espaço nosso, o que para já não é possível”. “De qualquer modo, há sempre pormenores nossos que acrescentamos”, explica. Apesar de a banda não ter muito tempo de vida, já têm concertos marcados para Janeiro, no bar “Roxi Romeu” em Alhandra, em Fevereiro no bar “Katekero” em Granho (Salvaterra da Magos) e vão actuar na Passagem de Ano de um hotel na Guarda.Num bairro tão sossegado, a existência de uma zona que albergue tantas bandas não parece incomodar os vizinhos, até porque muitos nem sabem o que ali se passa. “Isto está tudo isolado, não se ouve absolutamente nada. Ninguém se queixa, mesmo quem vive nesta casa aqui à frente”, diz Nelson, apontando para uma janela a poucos metros da garagem onde ensaia a banda. “Há um senhor que já veio aqui reclamar três ou quatro vezes mas é porque às vezes saímos daqui tarde e falamos um bocadinho mais alto. Já fizemos a experiência de tocar e a vocalista ir lá fora e não se ouve nada”, conta o guitarrista, acrescentando que “tentamos não fazer muito barulho mas quando é para ensaiar é para ensaiar a sério”.Nenhum deles sabe ler uma pauta mas todos tocam afinados. Quando se enganam, começam de novo “as vezes que forem necessárias”. A música, apesar de ser ainda um passatempo a que se dedicam nas horas livres entre a escola e o emprego, é levada muito a sério. Bruno Martingil começou a tocar bateria quando entrou para a banda, há pouco mais de um ano. Antes disso, tocava caixa numa filarmónica de Muge (Salvaterra de Magos). Hugo Almeida, um dos guitarristas, toca guitarra há cinco anos. Já tocava em bandas de música regional, influenciado pelo pai, que toca cavaquinho. É esta a única formação musical de que dispõem.Duas garagens ao lado, ensaiam também os cinco elementos dos Sannedrin, que tocam aquilo que definem como “death metal progressivo”. Há já cerca de um ano que ali se reúnem para ensaiar as suas músicas e nunca tiveram queixas ou reclamações por causa do ruído. “Talvez seja porque ensaiamos ou de tarde ou no período entre as 19h00 e as 21h00”, justifica Cláudio, um dos elementos da banda. “Antes ensaiávamos numa outra garagem também aqui na Póvoa onde, pelos canos de esgoto, se ouvia tudo. Fomos alertados para a situação e viemos logo embora”, acrescenta.Estas não são as únicas bandas que nasceram e procuram dar os primeiros passos na Póvoa de Santa Iria. As garagens, sempre devidamente insonorizadas, escondem talentos que sonham um dia sair cá para fora.
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