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Cília da Costa Serra é advogada em Vila Franca de Xira

Jurista diz que nunca defendeu ninguém em quem não acreditasse

Ao longo de duas décadas de profissão, Cília da Costa Serra já viveu muitas histórias rocambolescas que guarda para si devido ao segredo profissional. A advogada com escritório em Vila Franca de Xira dedica-se “de alma e coração” à actividade.

Cília da Costa Serra é advogada há vinte anos e nunca pensou ser outra coisa. Licenciou-se na Universidade Clássica de Lisboa e, depois de um estágio no escritório do doutor Palma Carlos, em Lisboa, e de uma passagem pelo gabinete de consultoria jurídica da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, tem o seu próprio escritório no centro comercial Vilafranca Centro.Quando se lembra de como tudo começou, faz questão de realçar a importância que “o seu patrono”, Palma Carlos, teve nas suas escolhas. “Foi dele que ganhei todas as minhas bases, a minha perspectiva e a minha visão do direito”. No final desse estágio, teve a hipótese de ficar a trabalhar lá mas preferiu apostar em Vila Franca de Xira, terra onde nasceu, onde toda a família reside e onde conhece toda a gente. “As pessoas costumam dizer que a terra às vezes é mais madrasta do que mãe. Eu não tenho essa experiência. Pelo contrário, sou muito bairrista”, diz a advogada. Confessa, no entanto, que também foi um pouco por teimosia, “não quis acomodar-me à cidade grande, onde não conhecia ninguém”.O percurso de Cília da Costa Serra foi acontecendo naturalmente. Ainda no tempo em que trabalhava como consultora jurídica da câmara municipal - “porque quando acabamos o curso queremos começar logo a ganhar dinheiro” -, o presidente, a dada altura, resolveu repartir o gabinete e lançou a Cília o desafio de integrar a área do urbanismo. “Sou muito aventureira e, por isso, aceitei. Fui para esse departamento sem saber nada de nada”, lembra. Depois dessa mudança, a advogada resolveu formalizar essa especialização com uma pós-graduação em Coimbra, em Direito do Ordenamento do Território e Urbanismo. Confessa que não é muito estudiosa, mas sempre conseguiu boas médias devido ao que define como “instinto jurídico”.As duas décadas de profissão deram-lhe muitas histórias que considera “rocambolescas” mas que o sigilo profissional a impede de partilhar. “Aparece-nos de tudo”, diz Cília da Costa Serra, lembrando sobretudo o tempo em que exercia uma advocacia generalista, antes de se especializar no urbanismo. “Não gosto nada de fazer crime, mas já fiz muito, aliás comecei por aí. Fiz o estágio na Boa Hora”. Lembra-se de uma vez ter recusado defender uma pessoa. “Nunca defendi ninguém em quem não acreditasse”. Lembra um marido que matou a mulher em Vila Franca de Xira. O tribunal nomeou-a, e a outros advogados, para defender o acusado e Cília, com outros advogados, pediu escusa. “Pode dizer-me que todos têm o direito a uma defesa. Sim senhor, mas para isso é que há o bastonário da Ordem dos Advogados”.A paixão pela músicaO doutor Palma Carlos, um homem muito sabedor, passou-lhe uma máxima de que nunca mais se esqueceu: “Nunca se lembre de, à sexta-feira à noite, levar trabalho para casa porque nunca faz nada e vive o fim-de-semana angustiada”. Nos primeiros tempos ainda levava trabalho para casa e acabava mesmo por ficar angustiada. Agora reserva os fins-de-semana, o pouco tempo livre que tem, para os dois filhos, a Ana, com nove anos, e o João Diogo com sete. “Os meus filhos são a minha culpa, pensar que o tempo está a passar e não estou a vê-los crescer”. Ainda assim, todas as noites, apesar da hora tardia a que chega a casa, Cília deita os filhos e conta-lhes histórias.A sua paixão é a música, “é o que me enche o espírito”. Toca flauta e passou a adolescência no Ateneu Artístico Vilafranquense. “Nos dias maus, oiço muita música”. Entre as escolhas, a música clássica e a música romântica ocupam os lugares de topo. “Gosto de Roberto Carlos e Júlio Iglesias, aquilo a que os mais novos chamam música pimba mas que eu gosto de ouvir”.Dedicada de alma e coração à advocacia, que diz, em jeito de brincadeira, ser “um sacerdócio”, é no seu escritório que passa a maior parte dos seus dias, juntamente com uma equipa de advogados com quem trabalha. “Acho que está a nascer uma nova advocacia, que tem a ver com a minha geração e não com a dos mais novos”, uma advocacia virada para a área empresarial. Está a perder-se o advogado sozinho e estão a criar-se equipas de trabalho para dar mais qualidade ao cliente. Geralmente, a pessoa que vai ao escritório tem problemas de diversas ordens e é humanamente impossível o advogado abarcar todas as áreas do Direito. “Aquele que disser que sabe de tudo está a mentir”.

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