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António Lourenço da Silva é empalhador, marceneiro e cesteiro em Coruche

O artesão transforma madeira e palha em objectos de conforto

O jeito para trabalhar a madeira e a palha já vem de família, mas António só descobriu a vocação aos 30 anos. O negócio vai dando para as despesas, embora já tenha vivido tempos melhores.

Na oficina nas traseiras da sua casa no Vale Verde, arredores de Coruche, António Lourenço da Silva trabalha a madeira em bruto a que dá formas de cadeiras, bancos, sofás, portas de armários, mesas de sala e de cozinha. Faz de tudo um pouco e, principalmente, o que o cliente solicitar. No espaço por baixo da moradia, a esposa de António, Maria de Fátima, vai trabalhando o bunho (palha) e o junco (canas). Juntos vão protagonizando a arte cada vez mais rara do empalhamento de diversos objectos.António Lourenço da Silva, 56 anos, natural de Ponte de Sôr mas há mais de três décadas a viver em Coruche, é empalhador, marceneiro e cesteiro. Habilita-o a Carta Nacional para a promoção dos Ofícios e das Microempresas de Artesanato. Apesar da tradição da cestaria já vir dos seus avós e bisavós, só a partir dos 30 anos António começou a levar a actividade a sério. Começou por brincadeira a pegar num formão, martelo e serrote e a fazer peças para amigos e conhecidos. Bancos, cadeiras e outros objectos para o lar. Os primeiros foram expostos no antigo café Coruja e os incentivos para continuar foram muitos. As peças começaram a ter cada vez mais saída e a oportunidade de negócio concretizou-se. Desde então que António e as esposa Maria de Fátima tratam de tudo. Maria de Fátima empalha o bunho (palha seca), e o junco, cana mais grossa, materiais que crescem nos campos agrícolas, junto a cursos de água. É em Alpiarça que mais recolhem, zona de onde dizem vir a melhor matéria-prima.Vem verde e fica a secar ao sol até ganhar a cor amarelada ao fim de oito dias. Para ser trabalhado, o material tem de ser humedecido e receber um tratamento de enxofre.Num desses episódios António recorda como numa ocasião em que ia buscar bunho à quinta da Gouxa, em Alpiarça, um homem não o quis deixar entrar, como já fazia há sete ou oito anos. “Afinal também queria uma cadeira empalhada como já tinha dado a outro colega dele”, graceja. Um pequeno banco com assento em palha pode custar entre dez e 20 euros, enquanto um sofá de três lugares pode ascender a 800 euros. O que mais pesa no preço é o tempo despendido na mão-de-obra. Um sofá pode levar uma semana de trabalho sem paragens. “É mais confortável e faz melhor à saúde uma cadeira ou sofá em palha do que aqueles que se afundam”, assegura o artesão, baseado na opinião de um médico. Negócio em quedaDesde há cerca de dois anos as vendas decresceram bastante, diz António Lourenço da Silva. Costuma expor os seus trabalhos nas feiras de artesanato da FIL (Lisboa), no Estoril e já o faz em Santarém no W Shopping. Costuma marcar também presença nas festas de Alpiarça e da Chamusca. Mas cada vez menos. E queixa-se da falta de visibilidade do artesanato, principalmente na sua terra. “Nos últimos anos o artesanato tem desaparecido das Festas de Coruche em detrimento das tasquinhas, da música e de outras actividades. Lembro-me que há alguns anos bastava as festas para ter encomendas até aos festejos do ano seguinte”, refere António da Lourenço da Silva. Apesar de tudo tem ganho notoriedade. Já foi à RTP mostrar a sua arte e até ao programa Quinta das Celebridades (TVI) onde ensinou os protagonistas a fazerem empalhamento, entre os quais Lili Caneças. António Lourenço da Silva tem vendido mais peças para casas em Lisboa e, ao contrário do que se pensa geralmente, não apenas para decorar casas de campo. Fornece ainda salões de casamentos, restaurantes, esplanadas, bares e até concessionários de praia e hotéis que querem ter chapéus-de-sol em palha.O artesão lamenta a falta de mão-de-obra para a sua actividade. O trabalho é duro. Exige pulso forte e as artrites acabam mais dia menos dia por chegar. Mas António assegura que uma empresa com bons operários e uma equipa de vendas e promoção capaz tem futuro. “Não me importava de ir para o Algarve ou para o estrangeiro. Onde há turistas estas peças vendem-se muito bem”, garante.António lembra até um episódio com um casal alemão. Uma feira na FIL não estava a ser bem conseguida e o custo de 1.500 euros do aluguer do stand já pesava. Até que no último dia o casal viu o expositor e não esteve com meias medidas. Levou tudo o que estava exposto, o que tinha na sua oficina em Coruche e até o material que estava na Chamusca. O artesão só não revela o produto do negócio.

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