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Maria João Canilho

33 anos, socióloga, Azambuja

“Choca-me que se possa morrer com tão pouca dignidade. Saddam pode ter sido o pior dos homens, mas na morte e na justiça tem que haver um bocadinho de dignidade. E ele não a teve”

Choca-a que o Mosteiro das Virtudes funcione como armazém?Não tem grande resolução à vista até porque é um convento instalado em terrenos particulares. Quando estes edifícios estão agregados às paróquias são relativamente mais fáceis as recuperações. Já não me choca, mas obviamente que fico triste porque se perde um pedaço de história muito bonito e muito importante. Mas já está tão degradado que não é por aí que vai piorar…Acredita na justiça?Não posso deixar de acreditar porque de outra forma ponho tudo em causa. Agora se a justiça funciona sempre, se ela é cega, isso já não sei dizer… Tenho algumas dúvidas em relação a alguns procedimentos e tenho muita pena que no concelho de Azambuja tenhamos que depender de um tribunal que está superlotado. Basta ter dois estabelecimentos prisionais na área… Só por aí se justificaria a criação de um outro tribunal. Perde-se muito tempo útil e as pessoas ficam muito desgastadas. Psicológica e economicamente. Como encarou a execução de Saddam Hussein?As imagens são um pouco o retrato da civilização americana. Não consigo perceber porque é que os interesses económicos continuam a falar mais alto do que as pessoas. Toda a gente continua a ouvir os americanos e o seu presidente dizer que é uma questão humanitária. Não pode ser. Antes de pensarmos no humanismo dos outros temos que pensar no nosso. Estão a morrer americanos por uma guerra que não é deles e que não vão conseguir resolver. Choca-me que se possa morrer com tão pouca dignidade. Saddam pode ter sido o pior dos homens, mas na morte e na justiça tem que haver um bocadinho de dignidade. E ele não a teve. Concorda com a legalização do aborto?Continuo a achar que estamos à procura de uma coisa que não é a solução. Matar nunca é solução. O que tem que se procurar são formas de evitar que se chegue a uma gravidez indesejada. Tem que se pensar muito bem naquilo que se faz. Não percebo porque se fala em educação sexual. Para mim o que existe é uma educação para os afectos. E dentro dos afectos existe uma relação sexual, que não consigo desligar da afectividade. O aborto é sempre uma forma de matar. A partir do momento em que existe uma vida. Não posso ser a favor.Porque é que as pessoas optam por ter menos filhos?Não há política de família em Portugal. Diz-nos a história e a demografia que as pessoas normalmente em momentos de crise têm filhos. Parece ser um mecanismo de salvação da espécie. Penso que as pessoas não são egoístas a ponto de se privarem de ter filhos por isso. Há realmente um problema económico, mas acho que as pessoas não têm mais filhos pela falta de apoios. Se não tiver onde pôr o meu bebé não me vou desempregar… Passa pelos equipamentos, passa por qualquer coisa um bocadinho melhor do que 20 ou 30 euros por mês como abono de família. É ridículo! Ninguém pode sustentar um filho com 30 euros. Nem ajudar a sustentar. Não há incentivo à natalidade. Lembra-se da última vez que foi ao cinema?Já foi há imenso tempo… Quem tem bebés dificilmente vai ao cinema… Refugio-me muito mais nos Dvd’s. Há uma frase extraordinária que a minha irmã me disse quando a minha filha nasceu: Boa sorte para os próximos 18 anos.

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