Motard de Almeirim passou uma noite sozinho no deserto
José Henriques viveu momentos difíceis mas quer voltar à prova em 2008
Passou uma noite sozinho no deserto, andou vários dias a dormir escassos minutos mas quer voltar para o ano. É assim o espírito motard de José Henriques, o piloto de Almeirim que participou no Lisboa – Dakar.
José Henrique Carvalho, o motard de Almeirim que participou no rali Lisboa – Dakar, viveu momentos únicos na mítica prova de todo o terreno, que se realizou de 6 a 21 de Janeiro. Na segunda etapa em África, a quarta da prova, que ligou Er Rachidia a Ouarzazate, o piloto teve vários problemas, o último dos quais que o obrigou a passar uma noite sozinho no deserto.A etapa até lhe estava a correr bem mas numa duna, a 40 quilómetros do final e da zona de descanso, depois de 600 quilómetros já percorridos, a mota teve um problema eléctrico e ficou parada no meio de um “mar” de areia. Passaram vários concorrentes, incluindo alguns portugueses mas ninguém parou para o ajudar. O tempo foi passando e José Henriques, como é conhecido em Almeirim, começou a pensar que aquele seria o fim da sua participação no Dakar de 2007.Mas algumas horas depois do “empananço” apareceu finalmente alguém que parou e lhe emprestou uns cabos para ligar à bateria e conseguir voltar à prova. Já era noite cerrada quando o motor da KTM voltou a trabalhar em direcção ao final da etapa mas, como diz o provérbio, um azar nunca vem só. Na última duna, antes de uma longa recta que antecedia a zona de descanso, a mota voltou a ficar encravada na areia.Se na situação anterior José Henriques ainda tinha perto de si alguns concorrentes também presos nas dunas, desta feita estava só e só esporadicamente via luzes ao longe. Estava totalmente sozinho, sem forças e embora refira que manteve sempre um espírito positivo, começou a ver que ia passar a noite no meio do deserto e, mais grave, que a sua corrida estava terminada.O desânimo era grande quando, no meio de uma solidão avassaladora, começou a pensar na sua vida. Recordou o sofrimento por que passou e que viu nos hospitais quando acompanhou a doença que retirou a vida ao seu filho Diogo e pensou para si próprio que estava a ser um pouco “piegas”. Respirou fundo, descalçou-se, tirou umas fotografias e deu um pequeno passeio pelas dunas até começar a ficar mesmo frio, altura em que teve de se agasalhar para passar a noite. Não se recorda bem, mas pensa que conseguiu dormir algum tempo.“Já tinha visto muita coisa mas é diferente de tudo. É espantoso. Dos 40 graus de dia passa-se para um frio de rachar e temperaturas negativas à noite mas lá me controlei. Não posso dizer que foi uma noite maravilhosa mas foi de facto uma experiência única. Estar sozinho num sítio que não conhecemos e onde não há ninguém, não há luz, não há água, nem sequer uma árvore, é algo indescritível. Mas perder um filho é a pior dor que um pai pode ter e se não fosse isso e essas motivações e a perseguição do sonho penso que estava aqui muito eufórico com tudo. Mas como já vivi esta parte escura da vida nem sei bem como definir alguns dos sentimentos que vivi”, explicou José Henriques à nossa reportagem.A noite foi longa, ficou sozinho das 6 da tarde às 7 da manhã mas, com a claridade ainda fraca, chegou finalmente a ajuda através de uns amigos do francês Cyril Despress, o vencedor da competição de motas. Foram eles que lhe deram água e comida e o ajudaram a voltar à corrida. Ainda continuou a acompanhar a caravana mais uns dias mas já fora de prova, sem contar para a classificação. “O Dakar só é de facto quase sobre-humano para os motard’s. Para os outros pode ser duro, violento, mas não se compara. Fazer etapas em cima de motas não descansar, não comer, não dormir, é diferente”, analisa.Entretanto, José Henriques, que há dois dias não falava com a família, conseguiu finalmente ligar para Portugal. Falou com a esposa e apercebeu-se que estavam todos muito preocupados com a falta de notícias. “Eu também estava preocupado mas penso que estava um pouco fora da real e queria continuar mais uns dias”, refere o piloto agradecido a todos os que se preocuparam consigo. Confessa que desligou o telefone para não o pressionarem a desistir mas acabou por perceber que se calhar o melhor era mesmo voltar a Portugal. “É bom termos quem goste de nós”, remata.José Henriques não ia à espera de facilidades mas agora diz que o Lisboa – Dakar é muito mais difícil do que o que imaginava. As dificuldades começaram ainda em Portugal, logo na primeira etapa, quando a mota teve problemas eléctricos na bateria que nunca foram totalmente resolvidos. Correr em África foi algo inesquecível. As paisagens e as condições mudam de um momento para o outro e o piloto recorda que andou cerca de 400 quilómetros em que só viu 2 ou 3 militares espalhados pelo percurso. Cada vez que os via sentia-me bem porque via que estava no trilho certo. Chegou a parar e a tirar fotografias.Azares à parte, José Henriques garante que voltava a participar no Dakar e já sonha mesmo com nova presença em 2008. Quer levar mais apoio a nível de assistência, aquela que foi a sua maior lacuna este ano. Na corrida desde ano viu várias equipas compostas por pai e filho, uma prova que o seu sonho de fazer a prova ao lado de Diogo era possível não fosse a morte, traiçoeira, ter-lhe levado o filho.Nuno Ferreira e Nascimento Costa cumprem objectivoA dupla de Tomar que participou no Lisboa – Dakar conseguiu concluir a prova na 62ª posição. Nuno Ferreira e Nascimento Costa tiveram alguns problemas mas levaram o Bowler até Dakar. “Estamos muito contentes de ter terminado o Dakar logo na nossa primeira participação. Estamos todos bem e os carros também. Queremos agradecer a todos que nos apoiaram nesta aventura”, afirmam em declarações ao site da equipa - http://www.templasport.com.
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