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Uma mulher no mundo masculino do futebol

Uma mulher no mundo masculino do futebol

Carmen Mateus massagista das equipas de futebol do Porto Alto

Carmen Mateus é a massagista de serviço das equipas de futebol da Associação Recreativa do Porto Alto.

Casada e com um filho, Carmen tem formação técnica de massagem desportiva e recuperação física e trabalha, há alguns anos, no centro de fisioterapia de Samora Correia, local onde ganhou experiência suficiente para se aventurar num projecto associativo. Fã de futebol, esta benfiquista admira jogadores como Van Basten, Maradona e Ricardo Carvalho, além do actual seleccionador nacional, Scolari, e confessa que gostaria de assistir, um dia, a um jogo da liga inglesa. Em conversa com O MIRANTE Carmen explica como a família encarou a sua nova actividade e como é trabalhar num mundo indiscutivelmente masculino.Como surgiu esta oportunidade de ser massagista da equipa do Porto Alto?Através de uma amiga e colega de trabalho fiquei a saber que a AREPA estava a precisar de uma pessoa. Depois dos primeiros contactos fui a uma reunião com duas senhoras da direcção. Nesse dia senti uma energia muito positiva naquele ambiente e dois dias depois aceitei ser massagista do clube.Onde é que adquiriu formação?Depois de concluir um curso de formação profissional em técnica de massagem desportiva e recuperação física comecei a trabalhar no centro de fisioterapia de Samora Correia onde trabalho há alguns anos. A prática neste centro tem-me ajudado bastante nos conhecimentos profissionais, graças a todos os colegas e médicos com quem trabalho.Como concilia a sua actividade profissional com a de massagista de futebol?O horário de futebol é a noite, por isso não é difícil conciliar os dois trabalhos. No fim-de-semana só tenho que acompanhar os jogadores, algo que me dá bastante prazer.Está a gostar da experiência?Comecei esta época e ainda sou nova nestas andanças mas já me sinto bastante mais confiante do que nas primeiras semanas, sobretudo pelo apoio e carinho que a direcção da AREPA me tem prestado e também, é claro, aos jogadores que têm sido bastante correctos e respeitosos, acatando na maioria das vezes as minhas decisões. Sei que não é fácil decidir sobre a vida dos outros, mas faço-o sempre a pensar no bem deles, e acho que eles sabem isso.Como é trabalhar num mundo indiscutivelmente masculino?Não é difícil. Desde o primeiro dia que toda a gente me respeita e, na maioria das vezes, diria mesmo 99,9% das pessoas aceitam as minhas decisões profissionais. Isso é essencial para criar um bom ambiente, sentir que confiam em mim.É habitual ouvir comentários quando entra em campo ou as pessoas já não ligam?Acontece uma vez ou outra ouvir comentários mas as pessoas vão-se habituando à minha presença e, ultimamente, já nem ligam. Sinal que tomam por normal a presença de uma mulher em campo.Como reage a essas situações?Não reajo, ou seja, ajo com normalidade. Quando entro no campo é para tratar alguma lesão, e é com isso que me preocupo. Não me preocupo minimamente com o que se passa fora do campo.Sente que quando está presente a equipa tem mais respeito e cuidado nas conversas diárias?Não sei como são as suas conversas diárias, mas presumo que a minha presença imponha um pouco mais de cuidado na linguagem. Não me incomodam minimamente, no entanto, não gosto de faltas de respeito.A linguagem chula no futebol incomoda-a ou pelo contrário também é capaz de chamar cabrão ao árbitro ?A linguagem de futebol não me incomoda apesar de, às vezes, sentir que é um pouco pesada. Seria incapaz de utilizar esse termo com alguém.Sofre com as suas derrotas e vibra com as vitórias?Desde que estou na AREPA sinto as coisas de forma diferente. Estar no campo faz com que nos preocupemos mais. Ser, de certa forma, um dos intervenientes faz-me vibrar e sentir o jogo com maior intensidade. Fico mal quando perdem e muito contente quando vencem.Como se sente quando um dos jogadores se lesiona com gravidade?Acima tudo uma preocupação muito grande porque sei as consequências das lesões. No entanto, temos que ser mais fortes, uma vez que é o nosso empenho e trabalho enquanto massagistas que determina o sucesso ou insucesso de cada jogador.Como se motiva um jogador que acaba de sofrer uma lesão grave e não pode jogar durante um largo período de tempo?Pela minha experiência, o diálogo e o companheirismo são, talvez, o melhor remédio para ultrapassar a fase menos boa. É preciso ouvir, compreender e aconselhar da melhor forma para o jogador se sentir motivado e confiante.É fácil criar laços de amizade com jogadores e equipa técnica?O convívio quase diário com todos facilita a amizade. No entanto faço os possíveis por merecer essa confiança e amizade. Mesmo quando tenho que os chamar à razão e ser um pouco mais dura, é porque me preocupo por eles.Como é que a sua família e amigos reagiram quando lhes disse que ia ser massagista duma equipa de futebol?Com algum espanto e surpresa porque não estavam a espera. Mas têm-me apoiado sempre.Nunca ambicionou ser massagista num grande clube de futebol?Nunca pensei nisso, mas seria interessante conhecer e apreender uma outra realidade mas acho que os problemas que iria enfrentar seriam muito parecidos com os que me deparo na AREPA.
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