uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Sagaz Manuel Serra d’Aire

O presidente da Câmara de Torres Novas, o tonitruante António Rodrigues, quer construir uma nova torre no castelo da cidade para lhe devolver a traça original. O autarca socialista que parece aferir o desenvolvimento de um concelho pelo número de gruas e de estaleiros de obras que ostente, deve andar desanimado com o abrandamento da construção no seu concelho e decidiu deixar um sinal ao pelotão de empreiteiros e afins. Não constroem os “patos bravos” constrói ele. Ali está um autêntico mestre-de-obras que não se poupa a esforços para deixar as suas marcas na cidade. Como já havia palácio dos desportos, bibliotecas, piscinas, teatros e rotundas por atacado, tinha de se arranjar mais alguma coisa. E como António Rodrigues não é homem para meios termos decidiu tomar de assalto o castelo. É o Gualdim Pais dos tempos modernos e daqui a uns séculos vai merecer com certeza uma menção para o concurso dos grandes portugueses da altura.A recuperação da traça original da monumental fortificação revela uma preocupação com a História e com as tradições do concelho pouco habitual nos nossos autarcas. Um respeito pelo passado que é de louvar. E que não é de estranhar. Pelo menos para os mais atentos ao que se passa por aquelas bandas. Todos temos que concordar que é bem visível o esforço feito nas freguesias rurais para se manter algumas vias de comunicação nas condições que se verificavam há um século: estreitas, esburacadas, em terra batida, mais próprias para burros e carroças. E a aversão ao saneamento básico, essa modernice inventada por gente asséptica que nunca vai para a mesa sem lavar as mãos, é um atestado de apego às raízes mais profundas e uma homenagem aos nossos antepassados que passaram bem sem essas mordomias. Carismático Manel fiquei roidinho de inveja com aquela história do terço que andam por aí a distribuir a pretexto da campanha sobre o aborto. Que fique bem claro que não é pelo valor do objecto em si - confesso que preferia que me oferecessem uma garrafa de bom vinho - mas sim pelo facto de mais uma vez ter sido ignorado, ostracizado, discriminado. Estou farto de não ser tido nem achado. Faz-se uma sondagem sobre o desempenho do Governo e ninguém me liga. Faz-se uma pesquisa de opinião por altura das autárquicas e não há alma que se lembre de mim. Se isto não é colocar um gajo à parte o que é? E depois admiram-se quando há malta que não aguenta e começa a meter-se na droga, no álcool e com a mulher do vizinho. Coisas destas marcam uma pessoa, arrasam a auto-estima…E se fosse só com as sondagens e com os terços estava eu bem. O pior é que devo ser dos poucos portugueses a quem nunca tentaram vender colchões por telefone nem convidaram para ir levantar um prémio a um hotel. Leio artigos quase todas as semanas sobre as vendas agressivas, com depoimentos de fazer chorar os carrascos do Saddam, e a mim ninguém me agride, ninguém me quer vender gato por lebre, ninguém me tenta passar a perna. Gostava de saber que mal é que lhes fiz.Não fossem as naftalínicas senhoras que insistem em bater-me à porta todos os fins de semana e piedosamente me tentam converter à sua religião (e também um impingidor de cartões de crédito que costuma estar no shopping) e era caso para dizer que a mim ninguém me liga. Já pensei até queixar-me à Deco. Mas entretanto soube que em Abrantes há uma simpática senhora que é provedora do cidadão e que pelos vistos está sempre pronta a auscultar as nossas lamentações. Será que ela me liga? Com esta dúvida existencial de um cidadão desesperado segue um abraço do Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...