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Memórias de João Trigueiros atrás das câmaras

Imagens do repórter de Alhandra percorreram o mundo

O operador de câmara esperou duas horas para que Amália Rodrigues se maquilhasse para conceder uma entrevista para o canal alemão ZDF e quando a diva do fado desceu ao piso inferior da sua casa recusou ser filmada porque não havia um monitor onde se pudesse ver enquanto decorria a entrevista. “Com muito jeitinho, disse-lhe que a jornalista tinha vindo da Alemanha de propósito e consegui convencer Dona Amália a dar a entrevista”, explica João Trigueiros, ourives de ofício, e operador de câmara por amor à arte de retratar rostos e vidas. O repórter de imagem realizou mais de 10 mil reportagens durante os quase 20 anos em que serviu a RTP e tem um espólio com milhares de fotografias. Aos 70 anos, João Trigueiros é o mais velho fotógrafo taurino no activo e guarda milhares de memórias de faenas, pegas e ferros cravados a preceito por cavaleiros afamados. A vida e obra deste artista nascido em Alhandra e estabelecido em Vila Franca, há quase 30 anos, estão retratadas numa exposição na Galeria da Biblioteca Municipal em Vila Franca de Xira até ao final do mês. Nesta entrevista, João Trigueiros revela a O MIRANTE alguns dos momentos mais significativos.

Quando surgiu o gosto pela imagem?Eu comecei pela fotografia. Quando casei, fui à casa do Queirós em Alhandra e comprei uma máquina de fotografar para levar para o passeio com a minha mulher. Quando regressei voltei lá porque queria uma máquina melhor, aquela já não me servia. Comprei logo outra e nunca mais parei. Tenho 22 máquinas fotográficas. Conservei sempre as mais velhas e nunca vendi nenhuma. Algumas estão aqui na exposição. Uma Nikon F1, uma Leica de 1945 de 35 mm igual a uma da Rainha de Inglaterra e a histórica Rolleiflex que foi uma grande máquina.Especializou-se na fotografia da festa dos toiros. Foi influência de Vila Franca?Sempre gostei das touradas e aos 30 anos comecei a fazer fotografia taurina e hoje sou o mais velho dos fotógrafos taurinos no circuito. Já fiz fotografia em muitas das melhores praças e gosto muito.Tem imagens de colhidas históricas?Olhe aquela do José Mestre Baptista. Apanhei mesmo o momento em que o cavalo foi colhido.Costuma participar em exposições?Sempre que posso vou. Tenho feito várias exposições em Portugal e Espanha. Como é que conseguiu entrar na RTP?Eu fazia uns filmes amadores em Super 8 e um dia estava a projectar um filme sobre o Campo da Lezíria em Cascais e conheci um director de iluminação que trabalhava na RTP. No dia seguinte telefonou-me a convidar para trabalhar na televisão como correspondente. Pensei: este gajo está a gozar comigo.Não teve de ser sujeito a testes?Fui mostrar os meus filmes de Super 8 ao Armando Carvalho que era o responsável pelo sector. Tive de levar o projector porque eles não tinham para Super 8. O senhor viu os filmes e não se manifestou. Fiquei desiludido e pensei que tinha dado uma grande barraca. Despedi-me e quando cheguei ao pátio ouvi uma voz. Era o senhor a dizer-me que tinha gostado muito dos meus filmes e que queria que eu começasse a trabalhar.Teve de comprar uma câmara nova?Comprei aquela Bolex que está ali (na exposição) que me custou uma pequena fortuna. Era uma máquina de corda muito boa.Lembra-se do seu primeiro trabalho?Foi o aniversário dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras. O País Pais era um programa de informação das várias regiões e fazia reportagem em todos os aniversários dos bombeiros. Era um ponto de honra daquela equipa com quem gostei muito de trabalhar e que incluía o Raul Durão, o Pedro Mariano e Corte Real, entre outros.E quanto é que foi o cachet?Ganhei 250 escudos, trabalhava à peça. A partir daí não mais parou?Comecei a trabalhar aos fins de semana, depois surgiram outros trabalhos e fiz muita coisa para a RTP e para dezenas de canais internacionais de vários países.

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