Os namoros e casamentos arranjados na marcha e no rancho de Azambuja
Ceifeiras e Campinos comemoram 50 anos a preservar as tradições ribatejanas
Os fundadores da marcha de Azambuja, que deu origem ao Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos, reuniram-se na praça do município. Meio século depois.
Maria Silva arremessa a foice contra o colo como se repetisse o gesto todos os dias. Adivinha-se longa experiência do árduo trabalho no campo. Aos 16 anos já era assim, quando então a menina integrou marcha que deu origem ao Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja. Cinquenta anos depois, no domingo de Carnaval, os fundadores voltaram à praça do município de Azambuja onde em 1957 apresentaram a primeira marcha. A menina tem já 66 anos e uma história de vida longa que não esquece os bons momentos passados no grupo de folclore. “Foi lá que arranjei namoro e casei”, relembra a trabalhadora rural com um sorriso rasgado e as mãos presas à cintura. O romance perdura. Há meio século. Da união resultou um rapaz e uma rapariga. A mãe não se importou que a filha integrasse a marcha. “Uma brincadeira de Carnaval”, remata o companheiro, José Abreu, 71 anos. Os tempos eram outros e as condições para ensaiar quase nenhumas. Os bailadores reuniam-se perto do picadeiro da vila. A luz era quase inexistente. “Eram as mães que compravam com muito sacrifício carboneto para os candeeiros para que o espaço do ensaio fosse iluminado”, recorda Maria Albertina Mateus, 66 anos que também conheceu o pai das quatro filhas no grupo. “Os rapazes que andavam nas eiras em Aveiras de Cima vinham de bicicleta aos ensaios na Azambuja e regressavam no mesmo dia”, lembra o marido, Jerónimo Fuzeiro, 68 anos.Hoje já não se ensaia à luz de candeeiros, mas as necessidades ainda são muitas, como sublinha o director do grupo, Miguel Ouro. “Gostávamos que a Câmara de Azambuja nos ajudasse a construir uma nova sede”, apela o dirigente que é responsável por uma das últimas revoluções operadas no seio do rancho.Miguel Ouro tem tentado aproximar a tradição com a realidade do grupo introduzindo quadros etnográficos e trajes diferenciados para valorizar a formação. “Em 2004 ainda tínhamos 10 mulheres iguais no grupo”, ilustra o director que é adepto da diversidade. Até porque o grupo deve representar a comunidade. “Não existiam só campinos e mulheres que ceifavam o trigo”, exemplifica. Na tocata já foram introduzidos novos instrumentos como a gaita-de-beiços e a concertina. A transição tem-se operado de forma tranquila para gerar consensos e evitar afastamentos. Esta é também uma das inovações do grupo – composto por 50 elementos - que está a ponderar recorrer à ajuda de uma psicóloga para prevenir eventuais cisões próprias de um grupo com esta dimensão. Os fundadores ainda deverão apresentar-se em mais actuações durante este ano, mas o futuro do grupo está também nas mãos dos 15 dançarinos de palmo e meio do grupo infantil: “Os tradicionais rapazes da grade e raparigas da monda”.
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