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Toneladas de resíduos perigosos em aterro de Alcanena que aguarda licenciamento

Empresários de curtumes dizem que cumprem normas ambientais
Perto de dez mil toneladas de resíduos perigosos de curtumes são depositadas todos os anos num aterro em Alcanena que para o Estado ainda não está legal mas os empresários dizem cumprir as normas ambientais. Dados do Instituto de Resíduos revelam que o passivo ambiental de resíduos perigosos em Portugal é de 300 mil toneladas e está depositado em Sines, Alcanena (50 mil toneladas), Barreiro e Seixal desde a década de 50, à espera de um destino final."O aterro está bem isolado e esperamos ter tudo regularizado até ao final do ano", afirmou Fernando Fernandes, presidente da Associação de Utilizadores do Sistema de Tratamento de Resíduos de Alcanena (AUSTRA) e um dos muitos empresários do sector dos curtumes do concelho. Ao contrário do que sucede com o sistema de tratamento dos efluentes, a recolha de resíduos de curtumes - aparas e raspas de pele muito ricas em crómio e metais pesados - funciona de uma forma eficaz e consolidada do ponto de vista ambiental. Exemplo disso é o facto da AUSTRA estar a investir cerca de 500 mil euros para reparar uma das células do aterro que estava a deixar infiltrar líquidos para o subsolo, exemplificou Fernando Fernandes. Este problema começou a ser corrigido há alguns meses com a retirada de muitas toneladas de aparas de pele (mais conhecidas como raspas azuis devido ao elevado teor de crómio) para outra célula de modo a que fossem colocadas novas telas isolantes.O aterro de resíduos perigosos dos curtumes foi construído no início dos anos 90 pelo Instituto Nacional da Água e depois foi entregue à autarquia que há uns anos cedeu a gestão à AUSTRA. "Os problemas sempre existiram e nós agora estamos a resolvê-los para regularizar tudo", explicou o presidente da AUSTRA. Agora, além da correcção da célula, a AUSTRA quer requalificar os acessos e melhorar o sistema de monitorização para regularizar o equipamento, que terá capacidade para pelo menos mais dez anos.Os líquidos lixiviados do aterro são encaminhados por conduta para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, a poucos metros do aterro, que assim garante uma total impermeabilização face ao subsolo. Por ano, o sector movimenta 120 milhões de euros naquela que é a capital dos curtumes em Portugal e as aparas azuis são uma consequência normal do corte à medida das peles curtidas e tingidas de acordo com os pedidos dos clientes.Nos anos 70 e 80, o concelho de Alcanena era um dos que tinha piores índices ambientais, até porque os cheiros dos curtumes contaminavam a região e os resíduos do sector eram espalhados um pouco por todo o lado, chegando às linhas de água que abasteciam o rio Alviela, onde foi, durante muitos anos, a principal captação de água para a Grande Lisboa. Depois, com a construção da ETAR, condutas, emissários e do aterro resíduos a situação melhorou e o próprio Governo já subsidiou o transporte das aparas azuis que estavam ao abandono junto de algumas fábricas para o aterro.Poluidores pagadoresNo entanto, permanecem ainda alguns pequenos montes de aparas em terrenos por impermeabilizar, seja por falta de vontade dos empresários, seja por ausência de apoios para o transporte. Estes resíduos, embora em muito pouca quantidade, vão largando metais pesados ao longo dos anos que contaminam os aquíferos subterrâneos. Os empresários de Alcanena promovem ainda a reutilização do crómio, entregando as águas utilizadas na curtimenta das peles à AUSTRA, que retira aquele metal pesado e o devolve às fábricas, enviando depois as águas limpas para a ETAR.Estas soluções ambientais foram as possíveis para garantir a regularização das empresas do sector nos anos 90, com as novas regras da União Europeia. Por isso, cada empresa tem de cumprir directivas estabelecidas - com fiscalização regular - e cabe à AUSTRA cobrar aos empresários, conforme o seu índice de poluição, para manter o sistema em funcionamento e garantir a qualidade ambiental do concelho. "Somos os únicos parvos do país a cumprir o preceito do poluidor-pagador", desabafou Fernando Fernandes, que critica a acção do Estado nesta matéria. "Se eu for montar uma fábrica de acabamento de peles em Guimarães sou licenciado e não tenho os problemas que tenho em Alcanena", acusou o presidente da AUSTRA.

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