Científico Serafim das Neves
Não sei se viste aqui nos vídeos O MIRANTE, www.omirante.pt, as cenas da mánife da Chamusca contra o encerramento do serviço de Atendimento Complementar no Centro de Saúde. A princípio até pensei que se tratava de um ensaio para uma reconstituição histórica do pós-25 de Abril quando havia manifestações de rua por tudo e por nada. Depois é que percebi que se tratava de uma daquelas caminhadas destinadas a promover estilos de vida saudável. Excelente iniciativa. Centenas de pessoas a puxar pelos músculos das pernas e pelo músculo cardíaco é sempre uma cena digna de se ver. O pessoal da Fundação Portuguesa de Cardiologia devia ter estado na primeira fila. E gritar palavras de ordem também faz bem. Testam-se pulmões e garganta sem recurso a qualquer otorrinolaringologista. Espero que aqui na parvalheira se passem a fazer manifestações idênticas. Já estou farto de preguiçar no sofá e só me fazia bem ir por esses campos fora em procissão a cantar slogans contra um ministro qualquer. Dentro de pouco tempo vamos deixar de ter centros de saúde, extensões de saúde, apoio à saúde. É inevitável. Não havendo médicos quem é que nos trata? A maior parte das pessoas espantam-se por não haver médicos. A mim o que me espanta é ainda haver médicos. Se a maior parte dos estudantes não consegue acabar o secundário e se para entrar numa faculdade de medicina é exigida uma média de vinte valores, como é que ainda há médicos em Portugal? Isto é para mim um mistério mais intrincado que o mistério da Virgem Maria, acredita. No outro dia no café encontrei um senhor que faz umas mezinhas e propus-lhe sociedade. É o negócio do século. Primeiro foram as ervanárias, as para-farmácias, agora há uma grande abertura para legalizar as medicinas populares. A breve trecho curandeiros e endireitas vão passar a ter diploma oficial e a exercer legalmente. Ainda não ouviste falar naqueles centros de certificação de competências que o Governo está a criar para elevar o nosso nível de formação sem ter que nos obrigar a ir à escola? Quais centros de saúde, quais hospitais, qual carapuça! Temos que tirar da cabeça essa ideia de que só os médicos nos podem tratar. Se já conseguimos arbitrar jogos a partir do sofá da sala, andar na estrada sem conhecer um único sinal de trânsito, ditar sentenças sem ter qualquer curso de direito, apresentar soluções governativas sem nunca termos sido eleitos, auto-medicar-nos sem fazermos a mínima ideia de que lado é que fica o fígado, o que nos impede de começar a fazer transplantes de coração ou operações à vesícula? Para finalizar este e-mail tão doutoral nada melhor que continuar na área dos tratamentos. O que dizes ao tratamento dado ao Teatro Rosa Damasceno em Santarém? O povo é que tem razão. Para grandes males grandes remédios. Eu não sou adepto da eutanásia mas este caso abalou as minhas convicções. Aquilo era um cadáver adiado. Estava irrecuperável e cheio de esterco. Cheirava mal e tudo. Se não o edifício, o processo à volta dele. O que arde também cura…lembrei-me agora desta. Foi remédio santo!!Um abraço penicilínico do Manuel Serra d’Aire
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