Deputados consideram normal ler o jornal e estar ao telefone na Assembleia da República
Alunos de Azambuja ficaram decepcionados com resposta dos parlamentares
Só os deputados do PCP e do Bloco de Esquerda responderam aos alunos de Azambuja que escreveram em Novembro ao presidente da Assembleia da República decepcionados com o comportamento dos eleitos.
Os alunos da Escola Secundária de Azambuja - que em Novembro decidiram escrever ao presidente da Assembleia da República para manifestar o descontentamento relativamente ao comportamento dos deputados - ficaram decepcionados com a resposta dos eleitos. “Apenas o grupo parlamentar do PCP e do Bloco de Esquerda responderam, mas acabaram por descartar-se dizendo que os deputados têm que ler os jornais no plenário para se manterem informados”, revela a professora Ana Canaverde, uma das docentes que acompanhou os alunos na visita de estudo realizada ao Parlamento aquando da discussão do Orçamento de Estado. A professora adianta que os alunos não esconderam a desilusão ao receber a carta. “Sobretudo porque não admitiram o comportamento e não mostraram intenção de o corrigir”, continua a docente que concluiu que o presidente da Assembleia da República terá enviado a carta aos grupos parlamentares na Assembleia da República. Do presidente do Parlamento, Jaime Gama, e dos outros representantes dos grupos parlamentares não chegou ainda qualquer missiva dirigida ao grupo de alunos de Azambuja. “Ler o jornal não é passatempo é uma necessidade imperiosa de acompanhar tudo o que é publicado dia a dia na imprensa”, explica o Bloco de Esquerda. O PCP também contemporiza as observações dos jovens: “Não estamos a desvalorizar os reparos que nos fizeram chegar, mas o trabalho parlamentar não é só o que se passa no hemiciclo”, esclarece numa carta enviada aos alunos o grupo parlamentar do PCP. A deputada do PCP eleita por Santarém, Luísa Mesquita, aplaude a atitude de cidadania dos jovens estudantes, mas aconselha cautela na interpretação. “Muitas vezes os deputados têm que manter o computador aberto no plenário porque estão a trabalhar. Podem estar a escrever um requerimento ou a falar ao telefone para marcar uma audiência com alguém que precisa muito de ajuda”, justifica a eleita que sublinha no entanto que os deputados têm sobre as costas a grande responsabilidade de desempenhar o cargo que ocupam com dignidade e responsabilidade. “Não há pessoas perfeitas, nem instituições perfeitas”, enfatiza Luísa Mesquita que lembra que é perigoso generalizar. O deputado do PS e presidente da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, João Gaspar, considera igualmente que é preciso enquadrar o reparo. “Muitos deputados não estão no hemiciclo porque estão em trabalho de comissão no exterior”, explica João Gaspar que admite que os estudantes não dominem os meandros do funcionamento da assembleia. A utilização de computadores nas bancadas parlamentares não choca o deputado, que lembra que é um instrumento de trabalho onde os eleitos têm informações e notas. João Gaspar reconhece que por vezes a discussão é exaltada, mas lembra que nem todos trabalham da mesma forma. “Há deputados que falam sobretudo para chamar a atenção da comunicação social”, constata. O deputado do PSD, Vasco Cunha, eleito pelo círculo de Santarém, reconhece também que a observação não pode ser generalizada. “No meu dia a dia esforço-me por seguir determinada conduta, mas não tenho a certeza se todos pensarão como eu”, analisa. Vasco Cunha ressalva também que a discussão do orçamento é uma das matérias mais complexas que vai ao parlamento, sublinhando que nem todos os deputados dominam a matéria com facilidade. Em Novembro um grupo de alunos do curso de administração e ciências sócio-económicas da Escola Secundária de Azambuja organizou uma visita à Assembleia da República para assistir à discussão do orçamento de Estado para retirar alguns ensinamentos. Mas a realidade com que se depararam foi bem diferente. “Ficámos bastante desiludidos com a falta de civismo relativamente ao comportamento dos ministros e deputados, nomeadamente no que respeita a conversas e risos entre os mesmos, jogos de telemóvel e computador, leituras de jornais e revistas de decoração e falta de cumprimento de regras e horários”, escreveram os alunos na missiva enviada à Assembleia da República – de onde esperavam “discussão disciplinada, pontualidade e respeito pela opinião de cada um”.
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