A Assembleia de Freguesia de Alviobeira, Tomar, votou sábado por unanimidade a rejeição do traçado do Itinerário Complementar (IC) 3 na ligação entre Tomar e Coimbra, previsto para nascente da freguesia, na zona designada por “curvas de Alviobeira”. Cerca de 50 populares confirmaram, desta forma, que preferem que o troço seja construído a poente da aldeia, em zona integrada em Rede Natura. A reunião extraordinária, a primeira na história da freguesia, foi pedida pela Comissão de Moradores de Manobra, que conseguiram reunir 214 assinaturas para poder agendar a sessão da assembleia. Os moradores não aceitam viver no meio de duas estradas, uma vez que actualmente já convivem com a variante de Ferreira do Zêzere.A primeira “vitória” no processo foi anunciada logo no início da discussão. Numa carta enviada à junta de freguesia, a Estradas de Portugal admite que o troço situado em Rede Natura poderá ser considerado como alternativa ao que está a ser definido. No documento, a EP refere que depois de ter analisado as várias exposições dos moradores da freguesia (enviadas para a empresa no início do ano), decidiu “considerar o estudo da alternativa apresentada, pelo que a solução a poente de Alviobeira será contemplada na definição de corredores alternativos”. No entanto, na carta, a EP acrescenta que existem condicionantes locais, como o facto de “atravessar território classificado na Rede Natura”. Uma situação que só o Governo poderá alterar por indicação do Instituto de Conservação da Natureza. A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica de âmbito europeu que tem por ”objectivo contribuir para assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens” no território da União Europeia. Em Alviobeira, Tomar, os moradores dizem que a construção do IC3 a poente da freguesia vai ter pouco impacto sobre a vida natural da região, enquanto que no lado oposto, e tendo em conta que está prevista a construção de um túnel, o impacto será “enorme” no dia-a-dia dos locais.Os populares acusam ainda o presidente da câmara de ter mentido quando disse que a população estava de acordo com a última proposta apresentada pela Estradas de Portugal. Recorde-se que o executivo da Câmara de Tomar aprovou no início de Janeiro o Estudo Prévio apresentado pela Estradas de Portugal (EP). Na altura, não houve contestação, mas apesar disso a deliberação foi aprovada com uma imposição de condições à EP. A empresa terá que evitar “o conflito com os aglomerados urbanos da freguesia de Alviobeira, (…) devendo o mesmo ser estudado de tal forma que minimize ao máximo o impacto nas construções existentes e já prejudicadas com o traçado da E.N. 238 para Ferreira do Zêzere”, lê-se na deliberação. Os autarcas de Alviobeira não concordam com a posição da câmara e lamentam não terem sido ouvidos nem pelos responsáveis da EP, nem pela autarquia.O presidente da junta de freguesia, Fernando Nunes (PS), que em recentes declarações a O MIRANTE garantia que o actual troço em estudo era a única alternativa possível para a continuação do IC3, acabou por aceitar a posição dos moradores no último sábado. No entanto, o autarca acusou os líderes do movimento de estarem a usar a população por motivações políticas, o que levou os visados, José Júlio e Américo Miguel, a declararem publicamente que não serão futuros candidatos à junta. O novo traçado do IC3 está ainda em fase de estudo prévio, que deverá estar pronto no final do mês. Depois será enviado ao Ministério do Ambiente, para realização do estudo de impacte ambiental e será de seguida submetido a inquérito público. A votação da Assembleia de Freguesia de Alviobeira vai agora ser enviada a várias entidades, tais como Estradas de Portugal, Câmara de Tomar e Governo Civil de Santarém.