Extensão de Saúde de Beselga em risco de fechar as portas
Utentes não se conformam com essa possibilidade
A direcção do Centro de Saúde de Tomar não garante a manutenção do posto após a saída da médica que ali presta serviço.
Mais de 600 utentes da extensão de saúde de Beselga, Tomar, correm o risco de ficar sem médico de família já este mês, devido ao facto de a médica que há duas décadas ali dá consultas passar a integrar a unidade de saúde familiar de Marmelais, prestes a abrir. Os utentes queixam-se e a junta de freguesia, após reunir com a direcção do Centro de Saúde de Tomar, emitiu um comunicado pedindo para que os habitantes não se inscrevam em outra extensão, de modo a garantir para ali outro clínico. Uma situação que, segundo o director do Centro de Saúde de Tomar, não será fácil de solucionar. “Sem médicos não se fazem omoletas” diz Urbano Figueiredo.O responsável afirma que irá tentar “desenrascar” uma solução, à semelhança do que recentemente aconteceu no posto de saúde de Carrazede – em que as consultas são asseguradas quatro vezes por semana por médicos do Atendimento Complementar (AC) de Tomar – mas admite que o posto poderá ficar temporariamente fechado. “Para garantir ali consultas tenho de retirar médicos de outros locais e isso não se faz de um dia para o outro”, diz o clínico, adiantando que nunca houve tanta falta de médicos no concelho. “Neste momento há 25 médicos para 45 mil utentes. As duas unidades de saúde familiar absorvem 16 médicos (incluindo Gomes Branco, que actualmente exerce funções de presidente da ARSLVT), ficando apenas dez clínicos para assegurar 21 extensões de saúde”.A médica que trata os doentes de Beselga tentou tudo para lhes garantir um serviço mínimo, disponibilizando-se inclusive para continuar a prestar ali consulta, embora menos vezes. Mas tinha de trazer com ela uma enfermeira e um administrativo de Marmelais “e ninguém se mostrou disponível”. Maria João Pinheiro diz ter “muita pena em deixar o local onde mais gostou de trabalhar até hoje, salientando a “empatia” existente entre a médica e os utentes. “Foi uma luta que perdi”. Uma empatia que levou mesmo cerca de 70 utentes daquela extensão a inscreverem-se já no Centro de Saúde de Marmelais, de modo a poderem continuar a tê-la como médica de família. Por causa disso, Maria João Pinheiro diz ter sido “acusada” pelo presidente da junta de querer levar os utentes para o centro de saúde da cidade, “esvaziando” o da freguesia.Ao nosso jornal Carlos Silva disse apenas que “quanto menos utentes estiverem ali inscritos mais fácil será fechá-lo”. É por isso que emitiu uma circular, colocada em vários pontos da freguesia, onde “pede” a todos os utentes do posto médico “para não se inscreverem noutra extensão para assim termos utentes suficientes para esta extensão continuar aberta”.“Como é que vamos poder ir ao médico a Tomar se não temos transportes”, questiona Maria Lourenço Marques, 71 anos. De canadiana a ampará-la, aguarda que o marido (74 anos) saia do consultório para também ela ser vista pela médica de família. “Andamos ambos de muletas e hoje o meu neto teve de tirar o dia para nos vir cá pôr”, refere. Ana Morósio Vieira, de Vale do Calvo, diz que o povo “tudo irá fazer” para que não se feche o posto médico. “Só há dois autocarros por dia para Tomar, um de manhã e outro à noite, e apenas enquanto as aulas decorrerem. E também não há por aqui táxis”, afirma, salientando o facto de grande parte dos utentes serem idosos e de aldeias distantes.
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