José Algarvio é um tatuador autodidacta
Começou por brincadeira e já leva doze anos de profissão
O tatuador da Póvoa de Santa Iria iniciou-se na arte treinando em orelhas de porco e aperfeiçoou o estilo fazendo dos amigos cobaias.
Tudo começou por brincadeira. “Fiz uma tatuagem e gostei”, lembra José Algarvio. Aos 30 anos, conta já com doze de experiência em tatuagens. “Depois de fazer a primeira tatuagem cheguei a casa e construí uma máquina artesanal”, recorda. “Comecei a treinar em orelhas de porco e depois as cobaias passaram a ser os amigos”. O amadorismo dos primeiros tempos deu lugar ao que é hoje em dia a sua profissão de tempo inteiro. Há sete anos abriu a “Tribal Tattoo”, a loja na Póvoa de Santa Iria onde, de segunda a sábado, cria aquilo que considera obras de arte no corpo dos clientes que o visitam. Lamenta não ter podido estudar arte e afirma-se como um autodidacta.Do seu historial não se contam acidentes nem tatuagens mal feitas. As primeiras não tinham o traço firme das que desenha hoje, com a mão habituada aos contornos da pele humana. Ainda assim, todos os clientes se mostram satisfeitos com o resultado e quase todos acabam por voltar para repetir a dose. Os casos de arrependimento que José Algarvio conhece não dizem respeito à tatuagem em si mas sim ao significado. “Por exemplo, quando vêm aqui tatuar os nomes dos namorados”, diz o tatuador, que não concorda com esse tipo de tatuagens. É que depois de terminado o namoro a tinta permanece na pele.José Algarvio tatua-se a si próprio, algo que não é muito comum. Os desenhos que tapam a pele do seu braço esquerdo são quase todos da sua autoria. “Comecei a tatuar-me depois de uma vez não ter ficado muito satisfeito com o resultado de uma tatuagem que me fizeram”. Para corrigir o erro de outra pessoa, fez do seu próprio corpo a sua tela. É, aliás, desse modo que José Algarvio encara a sua profissão – como uma arte. Uma arte em que o corpo humano é a tela. Ao longo dos doze anos de profissão, o artista tem assistido à evolução no modo como a sociedade encara as tatuagens. “Antes era ainda mais uma coisa de marginais”, recorda. Apesar disso, a discriminação não desapareceu completamente. “Hoje em dia qualquer pessoa tem tatuagens mas muitas vezes têm que escondê-las, por exemplo para as entrevistas de emprego”. É por esse motivo que quando algum jovem lhe pede para tatuar o antebraço ou o pescoço, por exemplo, o tatuador conversa com ele primeiro, certificando-se de que está consciente da discriminação de que irá ser alvo mais tarde, por ter uma tatuagem num local tão visível. Ainda assim, o século XXI trouxe a arte da tatuagem a todas as idades e classes sociais. A clientela de José Algarvio situa-se na larga faixa etária dos 16 aos 65 anos.As tatuagens são a profissão e o passatempo de José Algarvio. É a elas que dedica todo o seu tempo. Quando não está no estúdio, desenha ou pesquisa sobre o assunto. O resto do tempo fica para o filho, agora com dois anos e meio. Se o filho de José Algarvio lhe disser que quer fazer uma tatuagem, terá todo o apoio do pai. “Mas só depois dos dezoito anos”, acrescenta.Apesar de concordar que as tatuagens são caras e, portanto, não acessíveis a qualquer bolso, José Algarvio não hesita em afirmar que “uma tatuagem não tem preço”. É uma obra de arte que fica para sempre, onde quer que a pessoa vá. Retratos sombreados e preto e branco são as tatuagens que José Algarvio mais gosta de fazer. Lembra-se de uma vez ter estado nove horas seguidas a tatuar a mesma pessoa. Para ele, quem disser que fazer uma tatuagem não dói está a mentir. “É claro que dói, é uma agulha a furar a pele”. Um dor que, pelo menos a julgar pelo número de pessoas que recorre ao estúdio de José Algarvio uma ou mais do que uma vez na vida, compensa pelo prazer de se trazer no corpo uma obra de arte.
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