Sobre casamentos e fusões …a reorganização do ensino superior
A arrogância positivista do século XIX ainda não desapareceu do comportamento do Homem Ocidental. Tendo descoberto as leis da atracção universal, tendo manipulado o átomo, eliminado doenças e inventado vacinas o Homem Ocidental matou Deus, nas palavras de Nietsche, e colocou no seu lugar a Ciência.Uma série de desastres provocados pela ciência humana, positiva, vieram, recentemente, chamar a atenção para as limitações da espécie humana e para o facto de que somos apenas mais um dos ocupantes deste planeta azul. Mas, apesar disso, alguns seres humanos continuam a esquecer-se dessas limitações e que ciências como a Etologia, permitem vislumbrar de forma transparente, comportamentos tais como a territorialidade, ou a competitividade, tipificados ao longo dos séculos pela cultura humana, quer sob a forma de cultura popular quer sob a forma de investigação científica. Na realidade, todos conhecemos a fábula do galo, rei da capoeira porque convenceu todas as restantes aves de que era o seu cantar que fazia nascer o sol. E, todos os que se dedicam a esses estudos, conhecem as investigações de Konrad Lorenz acerca da agressão intraespecífica e a ritualização de comportamentos agressivos, como forma de preservação das espécies, de que é um caso, a ave que confrontada por adversário de maior tamanho, finge que ataca um rival menos impressionante.Vem isto a propósito de recentes declarações envolvendo o Instituto Politécnico de Tomar, com epicentro numa interpretação apressada de um eventual casa/descasa com o Instituto Politécnico de Santarém ou com Instituições de Lisboa e sobre casamentos ideais.A questão verdadeiramente importante, em minha opinião, é a de se clarificar que o que está em discussão neste momento, a nível nacional, é a reforma do sistema de ensino superior em Portugal, e o facto desta ser guiada por vários objectivos que decorrem da Estratégia de Lisboa. Essa reforma do ensino superior irá também implicar uma reforma dos modelos de gestão e de organização das instituições de ensino superior, quer ao nível do reforço do sistema binário, politécnico e universitário, quer ao nível da governação das instituições, devendo estimular-se a abertura das instituições às necessidades da sociedade, às exigências do mercado de trabalho e à concretização de parcerias a nível regional, nacional e internacional, entre politécnicos e universidades, dentro do respeito das suas missões distintas e identidades próprias. Deve por isso compreender-se, definitivamente, que é a resposta aos desígnios da Estratégia de Lisboa, enquanto forma de melhorar a vida das pessoas e as suas perspectivas de futuro, que constituirá a pedra de toque que irá nortear o caminho e as estratégias que os estabelecimentos de ensino superior irão trilhar, e que este será feito no quadro das leis da República, seguindo as orientações dos governos democraticamente eleitos e dos acordos internacionais a que Portugal aderiu. Neste contexto, o IPT não “casará” ou deixará de “casar” com qualquer outro estabelecimento de ensino superior, por efeito da voz grossa ou do querer de um qualquer interveniente autárquico (entenda-se aqui, casar como comungar de objectivos ou estratégias comuns). Assim como, as autarquias também não deixarão de se associar, organizar ou reorganizar por vontade expressa, ou opinião contrária, dos responsáveis das Instituições de Ensino Superior dos Concelhos ou Distritos a que pertencem.O IPT, o IPS ou quaisquer outras instituições de ensino superior, enquanto instituições constituídas e dirigidas por gente responsável, sabem dar e darão, os passos necessários para que o ensino superior cumpra a sua função de qualificação do capital humano ao longo do seu ciclo de vida, de forma a que sejam atraídas para a região, ou nela sejam criadas, empresas com as quais seja possível estabelecer parcerias, pólos tecnológicos e industriais que cresçam e frutifiquem, apoiando, desta forma, o desenvolvimento empresarial e tecnológico dos Concelhos que possuem estratégias bem definidas nesse sentido e que têm procurado inverter o cenário de desinsdustrialização e de completo amorfismo que, na última década, tem sido a imagem de um ou outro pólo urbano.Até porque, verdade seja dita, a figura do casamento levanta, só por si, uma série de interrogações que criam mais dificuldades do que aquelas que resolve: Quem é que é o noivo e quem é que é a noiva? E se forem ambos noivos? Será nesse caso o casamento permitido antes de mais um referendo nacional “fracturante”? António Pires da SilvaPresidente do Instituto Politécnico de Tomar
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