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Cada casamento a sua história

Cada casamento a sua história

Memórias de duas ex-funcionárias do Registo Civil

Um cadastrado que seduz uma rapariga e casa com ela sob uma falsa identidade desaparecendo quando ela engravida. Um casamento desfeito pelo ódio entre duas famílias de extractos sociais diferentes. Memórias de Graciete Oliveira e Ilda Lourenço.

Graciete Oliveira e Ilda Lourenço ex-funcionárias do Registo assistiram durante cerca de trinta anos de trabalho a centenas de casamentos. As cerimónias decorriam habitualmente no gabinete da conservadora e como eram precisas testemunhas, as duas funcionárias acabavam muitas vezes por ser convidadas a atestar os enlaces. Desse tempo guardam memórias. Algumas divertidas. Outras nem tanto. Os casamentos nem sempre são os momentos mais felizes da vida das pessoas. Mas são seguramente dos mais marcantes. Uma rapariga de Alviobeira, Tomar, foi seduzida por um homem que se dizia da Sertã. O namoro durou pouco. Os pombinhos começaram a tratar do casamento no Registo Civil de Tomar. O noivo só apresentou uma cédula alegando que tinha perdido os documentos mas tudo acabou por se resolver. Algum tempo mais tarde, quando a noiva engravida ele desaparece de cena. Determinada, a jovem mete os pés ao caminho e vai procurar o pai da criança à Sertã, Quando lá chega fica atónita. A suposta sogra diz-lhe que o filho é solteiro. Após alguma conversa tudo se descobre. Os documentos do jovem tinham sido roubados e a noiva casara com um cadastrado que andava em fuga. O casamento acabou por ser legalmente cancelado. Graciete Oliveira e Ilda Lourenço puxam pela memória e contam outras situações. O casal, também jovem, era de Tomar, mas de estratos diferentes. Ela pertencia a uma família com posses, conhecida na cidade. Ele tinha origens modestas. Estavam apaixonados. Uma paixão que se tornou em desespero, de tal forma que marcaram o casamento sem o consentimento dos pais. A cerimónia decorreu nas instalações do Registo Civil de Tomar e acabou em violência. As duas famílias envolveram-se em agressões mútuas e só a chegada da polícia pôs fim ao conflito. O ódio entre as duas famílias continua e o jovem casal acaba por se separar. Ela morre, levada pela droga. E ele cai na delinquência e prossegue a vida entre prisões. As duas histórias têm mais de vinte anos. São dois momentos do quotidiano de quem lida de perto com casamentos. Hoje em dia os casamentos civis são vulgares. Antigamente não era assim. Numa sociedade mais fechada e dominada pela Igreja católica e por uma certa moral quem casava pelo civil era quem tinha algo a esconder; quem precisava de obter a nacionalidade portuguesa, ou por quem desejava comprar uma casa e precisava de um crédito bancário. Nos dois últimos casos, o casamento ficava, habitualmente, apenas no papel. Actualmente, o reconhecimento legal das uniões de facto, veio alterar alguns dos motivos da procura. Muitos casais que optam pela cerimónia civil, fazem-no por não reconhecer importância ao casamento religioso. No entanto, as obrigações e os direitos defendidos pela religião ainda são muitas vezes ouvidos no discurso laico. “A minha conservadora era muito religiosa e gostava de salientar os valores católicos”, sublinha uma das ex-funcionárias do Registo Civil de Tomar.
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