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Se a noiva quiser aparece nas fotografias sem olheiras, nem borbulhas, nem pontos negros

A era digital deu outra cor ao romantismo

Mudam-se os tempos e mudam as fotos dos casamentos. Os noivos não têm paciência para poses, os convidados tiram as suas próprias fotos com máquinas digitais e telemóveis, os programas de computador fazem desaparecer olheiras, borbulhas e pontos negros.

Há coisas que não podem faltar num casamento – os noivos, o padre ou o conservador do Registo Civil, as alianças, o copo d’água…e as fotografias. São elas que memorizam momentos de um dia único, para o bem e para o mal. “Já tivemos casos de a noiva vir levantar as fotos já depois de se ter separado”, refere Maria Celeste Guilhermina, proprietária da Belfoto de Santarém. Maria Celeste começou a fotografar casamentos há 30 anos mas já antes, em África, trabalhava em fotografia. Era um trabalho diferente, “mais de estúdio”. Em Santarém passou a ajudar o marido. E hoje os filhos do casal seguem as pisadas dos progenitores. A fotógrafa ainda é do tempo em que os noivos só viam se ficavam bem 15 dias depois da boda, quando iam levantar as fotos. “Nesse tempo não havia as chamadas provas”, explica.Hoje, as coisas são bem diferentes, ditadas por um mercado cada vez mais competitivo. Em vez de cem, chegam a tirar-se mil fotos e, quando os noivos têm muitos convidados, vão dois fotógrafos – um só para os nubentes, outro para os convidados. Os noivos, esses, têm menos predisposição para fazer pose – “Ponha a mão assim, incline a cabeça para a esquerda ou para a direita, abrace o (a) noivo (a)” são frases que vão fazendo cada vez menos parte do vocabulário dos fotógrafos. Porque, como diz Maria Celeste, os noivos preferem ser retratados de forma mais espontânea.Há 30 anos, quem menos bonito era, menos bonito ficava nas fotos. Agora as fotos são trabalhadas em programas informáticos que fazem verdadeiros milagres. Com um clic desaparecerem borbulhas e pontos negros inestéticos e disfarçam-se as olheiras de uma noite mal dormida. “Ás vezes nem os noivos quase se reconhecem”. O digital abriu as portas ao futuro da fotografia mas trouxe mais trabalho aos fotógrafos. “Perdemos muito mais tempo de volta das fotos”.A genuinidade de tempos idos deu hoje lugar a uma vertente mais comercial. Perderam-se os laços de confiança. Antes os noivos pagavam o serviço quando iam buscar as fotos, hoje faz-se um contrato, depois dos noivos escolherem qual o “pacote” de serviços que pretendem – só fotos, fotos e filme, livro digital. A panóplia é cada vez maior e o preço vai aumentando na mesma proporção. O álbum para colocação das fotos é escolhido à priori e, após a assinatura do contrato, os noivos não saem da loja sem pagar à cabeça 25 por cento do valor total do serviço.Hoje os convidados compram cada vez menos fotos. Preferem colocar-se por detrás do fotógrafo de serviço e “disparar” os flashes das suas máquinas ou dos telemóveis. Porque o que interessa não é a qualidade mas a recordação. “E há até quem tire fotos às provas que colocamos depois do almoço para os convidados verem e escolherem”, diz Maria Celeste.A proprietária da Belfoto compreende a evolução do mercado mas tem saudades do tempo em que trabalhava com máquinas analógicas. Saudades do tempo em que não se culpavam os fotógrafos de cada vez que a noiva chegava atrasada ao altar por ter demorado demasiado tempo no cabeleireiro. Saudades, até, das fotos a preto e branco. Porque são mais puras e têm mais alma.

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