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A esteticista que queria ser contabilista

Helena Zangrandi teve de deixar a escola aos 16 anos para trabalhar no campo

Gostava de ter sido contabilista, mas aos 16 anos teve de deixar a escola para trabalhar nos campos agrícolas de Alpiarça. Foi caseira de propriedades agrícolas mas acabou por regressar a Tomar onde tirou um curso profissional para se dedicar “à beleza dos outros”.

Helena Zangrandi tem 29 anos, é casada há 11, tem duas filhas, mora na freguesia da Junceira, em Tomar, e enveredou pelo ramo da beleza estética há apenas 2 anos, depois de ter conseguido tirar um curso de esteticista no Centro de Formação Profissional de Tomar com média de 16 valores. “Foi uma oportunidade de ter uma profissão”, sublinha. O sonho de menina era bem diferente. “Queria ser contabilista, vá-se lá saber porquê”, diz. A verdade é que até era boa aluna na escola, mas os estudos tiveram um momento de pausa, quando, no 8º ano, se viu obrigada, por problemas familiares, a abandonar a escola e a ingressar no trabalho duro da agricultura. Aos 16 anos foi para Alpiarça onde fez as campanhas do tomate, do melão e do morango. “A apanha do morango era difícil por causa da posição. Dava cabo das costas. Mas eu adorava o trabalho”. As campanhas prolongavam-se entre a Primavera e o Outono, por isso, quando decidiu continuar a estudar, optou por frequentar o ensino nocturno. Durante os meses da apanha, a jovem Helena integrava uma força de trabalho de 500 mulheres, que enchiam os campos de Alpiarça. Os homens dedicavam-se a outros sectores, como a vinha. “Desperdiçou-se tanto dinheiro que vinha da comunidade europeia. Agora está tudo desprezado e as pessoas foram substituídas por máquinas”. Helena já não se recorda de quanto ganhava, mas garante que valia a pena. Foi ali que conheceu o marido, de nacionalidade brasileira, com mais 17 anos que ela. “A nossa história é longa”. “O Roberto sempre foi muito respeitador. Nunca falou comigo. Só olhava. E antes de namorarmos, foi primeiro falar com os meus pais”, conta Helena Zangrandi. O namoro foi curto. Por proposta dela, casaram de forma a garantir a legalização do marido e continuaram ligados ao trabalho da terra. “Estivemos numa quinta em Alpiarça, como caseiros. Depois fomos para Benavente”, fazer o mesmo trabalho. Até que o marido sofreu um acidente e Helena foi obrigada a regressar a Tomar - “Gostei muito de voltar à minha terra”.Perante as dificuldades financeiras diárias, inscreveu-se no Centro de Formação Profissional, na área da beleza. “Podia ter sido um curso de cabeleireira ou de esteticista. Fiquei muito contente quando me chamaram”, garante. Durante um ano, aprendeu as técnicas da epilação, de pedicure e de manicure. Esforça-se por manter as regras de higiene e a prática aprendida. “Como se diz por aí, depressa e bem não há quem. Eu sou perfeccionista e avalio o meu trabalho mais pela qualidade”, descreve. A publicidade é feita de boca em boca.No seu gabinete, situado no centro histórico de Tomar, a última novidade que usa na epilação é a cera de chocolate. “É a mais suave e deixa um cheirinho... Noutro dia uma cliente disse que lhe cheirava a bolos”. Helena gosta de todos os trabalhos que executa, mas destaca a pedicure. Demora cerca de duas horas a tratar uns pés. É só nesta área que lhe aparecem clientes homens. “Eles só vêem por necessidade”. O marido costuma ser a sua cobaia. “Tiro-lhe os pelos das sobrancelhas”, ri.Sublinha a importância do apoio que teve dos formadores, quando engravidou da segunda filha durante o curso, do estágio profissional que conseguiu e da família que até hoje não deixou de a ajudar. O marido e os pais têm-na auxiliado. Ajudaram-na, por exemplo, a comprar o material para o gabinete de estética. Ter o mínimo possível, significa gastar cerca de 2.500 euros. Helena confessa o que gosta mesmo é de trabalhar com pessoas e foi por isso que largou a agricultura. “Gosto muito de lhes dar carinho, de lhes tocar e de que se sintam confortáveis”. Além dos tratamentos, a esteticista gosta de criar um ambiente confortável. O rádio com CD está sempre pronto com mood music. “Alguns clientes quase que adormecem”. No entanto, são poucos os que procuram as massagens californianas e de tratamento anti-celulite. “É a crise. E quem tem dinheiro vai a clínicas”. Helena Zangrandi confessa que é uma perfeccionista e que por isso sabe que tem ainda muito que aprender – “estou contente, mas ainda não estou realizada, porque sei que ainda me falta saber muito para ser uma profissional excelente”.

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