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O truque perfeito para não pagar a conta

Falavam alto e bebiam do bom. Casal da Coelheira tinto. Dois homens e dois miúdos. Cena de Sábado de aleluia num restaurante apinhado. Um dos comensais balançava-se nas duas pernas de trás da cadeira. Na altura pensei que fossem reminiscências de infância. Um tique de quando o homem era rapazito e tinha bichos carpinteiros no corpo. Não era, como adiante se verá. Eram os preliminares para uma saída sem pagar a conta. Adianto já a informação para os que não têm tempo de ler este escrito até ao fim. Os graúdos batiam-se com sável frito e açorda de ovas. As crianças atacavam os bitoques com satisfação. O marmanjo continuava a balançar-se na cadeira. E ia aumentando o ritmo com insistência. A cadeira resistia. Não se desconchavava à primeira, a peça de mobília. Mas havia tempo. Nesta altura é justo que seja elevada à categoria de cadeira de baloiço. E é de bom-tom que se diga que isto não é ficção mas realidade. Pura realidade.Vieram uísques para a mesa mas não foram metidos na conta. Eu sei porque recolhi o papelinho que ficou abandonado no local. Cortesia da casa? Esquecimento? Provavelmente uma forma de evitar uma discussão que se iniciou com a apresentação da conta mas que morreu com a chegada do balde de gelo à mesa. E as pernas da frente da cadeira do fulano do lado do corredor continuavam no ar. Digamos que ele fazia cavalinhos com ela. Um motard de restaurante, portanto.E bumba! Objectivo cumprido. A cadeira partiu-se e o cliente foi ao chão. Levanta-se o sinistrado com uma cara de ofendido e ensaia uma discussão. Voz no máximo para chamar a atenção de toda a sala. Vem um homem para aqui descansado, reflectir sobre os mistérios da Ressurreição e é crucificado desta maneira!!! Se não foi por estas palavras foi por outras de sentido idêntico que ele se exprimiu. Vai ao hospital, não vai ao hospital. Para evitar mais escarcéu o patrão sugere que se esqueça a conta, quarenta euros e cinquenta e cinco cêntimos. Palavras mágicas. Nem Cristo terá tido poderes tão curativos quando se passeava pela terra a fazer milagres. A vítima da queda deixou de ter dores, os acompanhantes ficaram bem dispostos e sorridentes. Partiram dali felizes da vida. Antes das sobremesas já eu os tinha ouvido dizer que no dia seguinte voltariam para uma bela bifalhada…à borla. Claro! Desejo-lhes uma boa digestão. E lá vai mais uma cadeira para o maneta, como diria a minha avó. Rui Ricardo

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