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Vila Franca de Xira recorda momento em que Alves Redol foi acusado de ser burguês

Debate inserido nas comemorações do 50º aniversário do União Vilafranquense

Pedro Calheiros, professor universitário criado em Vila Franca relembra a personalidade e coragem de Alves Redol, ao mesmo tempo que fala das semelhanças entre o neo-realismo e o naturalismo.

A Cooperativa Alves Redol associou-se às comemorações do 50º aniversário do União Desportiva Vilafranquense e assinalou a efeméride no sábado, 21 de Abril, com uma conferência no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Pedro Calheiros, professor de literatura da Universidade de Aveiro, foi o convidado de honra. Falou sobre o neo-realismo e o naturalismoA ocasião foi aproveitada pelo interlocutor para contar uma passagem de Alves Redol - introduziu o neo-realismo em Portugal com o romance Gaibéus (1939) -, reveladora da sua coragem enquanto homem. Embora não testemunhasse o momento, sabe que aconteceu durante uma conferência que Alves Redol deu no salão paroquial de Vila Franca de Xira, cheio de paroquianos desconfiados, de alguns agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e de numerosos marxistas ortodoxos.Disse que, acusado de faltar ao rigor do materialismo científico nos seus últimos romances, acusado de fazer o jogo da burguesia e de se ter tornado até um burguês, Alves Redol teve a audácia de responder da seguinte maneira: “Se dizem que eu me tornei um burguês porque vim de carro, se dizem que eu me tornei burguês porque eu trago um sobretudo que me protege do frio, ou ainda porque daqui a pouco beberei um uísque com o senhor padre (Vasco Moniz), eu sem hesitar respondo que sim, eu sou um burguês”. Pedro Calheiros explicou aos presentes que, segundo o fundador do naturalismo, Émile Zola, a obra “o romance experimental” (1880) se baseia na ciência, na análise e na observação para transformar a sociedade. “A vontade do neo-realismo, vincada literatura do vila-franquense Alves Redol, aplica também esses instrumentos com o mesmo fim”, salienta o professor.Pedro Calheiros defende, por isso, existir uma ténue fronteira entre ambos os géneros literários. “É bastante difícil, para não dizer impossível, responder à questão de saber se o neo-realismo se deveria ter chamado neo-naturalismo ou neo-realismo-naturalismo”. Leonel Garcia, presidente da Cooperativa Alves Redol, e José Russo, da Comissão para as Comemorações do 50º Aniversário do União Desportiva Vilafranquense foram os anfitriões da conferência. O evento contou com as presenças de David Santos, director do futuro Museu do Neo-Realismo, José Francisco Santos, vereador da CDU na edilidade de Vila Franca de Xira, e António Mota Redol, filho de Alves Redol, entre outros. Professor universitário com ligações a Vila Franca de XiraPedro Calheiros viveu a sua adolescência no antigo Centro de Assistência Social e Infantil, instituição dirigida pelo padre Vasco Moniz. Fez a quarta classe e o ensino secundário em Vila Franca de Xira. Desertou para França após ingressar no serviço militar, por não estar de acordo com a guerra colonial. Estabeleceu-se em Paris, cidade onde recomeçou os estudos. Formou-se em literatura portuguesa e brasileira, tendo leccionado em algumas universidades francesas. Viveu naquele país durante vinte anos. Regressou a Portugal em 1991. É actualmente professor de literatura portuguesa na Universidade de Aveiro.

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