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Vinho Ribatejano tem qualidade para ir mais além

Vinho Ribatejano tem qualidade para ir mais além

Aníbal Coutinho aconselha reflexão sobre o que promover e como promover

O conceituado especialista em vinhos, Aníbal Coutinho, fala nesta entrevista a O MIRANTE sobre os vinhos ribatejanos e recupera a ideia de uma grande região vitivinícola, englobando Alentejo, Ribatejo e Sado e Algarve, que poderia ombrear com o Chile e a Austrália, tendo a vantagem comercial de se situar na Europa.

O conceituado especialista em vinhos, Aníbal Coutinho, fala nesta entrevista a O MIRANTE sobre os vinhos ribatejanos e recupera a ideia de uma grande região vitivinícola, englobando Alentejo, Ribatejo e Sado e Algarve, que poderia ombrear com o Chile e a Austrália, tendo a vantagem comercial de se situar na Europa.Que opinião tem dos vinhos ribatejanos? Como os classifica?Não se pode classificar o vinho ribatejano, ainda para mais com a abertura às castas internacionais. Mas, apesar das várias micro-regiões que o Ribatejo encerra, é evidente a dominância do clima continental, gratamente atenuado pela presença dos rios e pela latitude. Pensando nas castas, diria que o Ribatejo e o Alentejo seguem o mesmo padrão de fácil maturação das uvas, com o benefício alentejano de maior acidez natural dos seus vinhos e melhor equilíbrio hídrico das vinhas.Porque é que os vinhos ribatejanos têm alguma dificuldade em afirmar-se no mercado?O Ribatejo é uma região tradicional de vinhos. Infelizmente esse tradicionalismo é percebido negativamente pelo consumidor que o associa ao vinho envelhecido e rústico. Os produtores ribatejanos devem reflectir se tudo fizeram para modernizar as suas adegas - dimensionadas para um Portugal ultramarino - e para contratar técnicos familiarizados com os novos padrões de consumo e a moderna enologia. As elites ribatejanas não se aperceberam atempadamente que o vinho saiu da nobreza e das tascas para bater à porta de uma classe média mais atenta e esclarecida.Ao contrário do Alentejo, o Ribatejo nunca conseguiu uma grande difusão dos seus vinhos na generalidade dos restaurantes, porquê?O facto do Alentejo ter arrancado mais tarde foi a chave do sucesso. Num mercado de consumo tradicional os produtores privados alentejanos inovaram na sua proposta comercial e deram boleia às cooperativas. Fizeram-no no momento certo porque mudou o padrão de consumo de “muito vinho” para “melhor vinho”. Investiram em novas adegas, novos enólogos e novas castas. O Ribatejo, não.Tem sido feita ultimamente alguma promoção dos vinhos ribatejanos. O governo civil, por exemplo, tem promovido uma prova de ciclismo (volta ao distrito). É esta a estratégia mais certa? O Ribatejo devia apostar mais em termos de promoção no mercado externo?Portugal não tem estratégia para o seu vinho. Nem o Governo, nem o Instituto da Vinha e do Vinho, nem a ViniPortugal, nem as regiões. Gostaria muito de estar enganado e de receber cópia do documento com uma dezena de objectivos mensuráveis de médio/longo prazo para Portugal e para cada região, com as acções para atingir esses objectivos. Um documento que todos os directivos de topo partilhem. A realidade é que alguns frutos vão surgindo devido à presença cada vez mais intensa em feiras e revistas internacionais e aí nota-se o esforço da Viniportugal e do Icep (Instituto das Empresas para os Mercados Externos). Mas não nos esqueçamos da diferença entre cinemática e a dinâmica. Quanto ao Ribatejo antes de pensar em “onde” promover, creio que se deve reflectir no “o que promover” e no “como promover”. Refiro-me à segmentação e à qualidade média do produto.A região do Ribatejo teria vantagem em juntar-se a outras para atingir escala?Sou a favor da junção de regiões, sempre que elas ocorram tendo a proximidade dos seus vinhos por denominador comum. Não vejo similitude entre os vinhos do Ribatejo e da Estremadura. Já publiquei a minha opinião sobre os grandes “denominadores comuns” do vinho português: O Atlântico, com a dificuldade na maturação fenólica e a elevada acidez natural. Neste espaço geográfico agruparia o Minho, a Beira Interior e a Estremadura. Seria um espaço óptimo para brancos e roses. Os Vales, com vinhos mais concentrados e para nichos, agrupariam Douro, Trás-os-Montes e Beira Interior. O Ribatejo está naturalmente incluído no grande Sul, com o Alentejo, Sado e Algarve. Esta macro-regiao poderia ombrear com a Austrália e o Chile com a vantagem competitiva de se localizar na Europa. Sobre todas as outras associações creio que não servem o vinho.No panorama nacional os vinhos ribatejanos são baratos ou caros?Em termos médios, o consumidor paga menos por um vinho ribatejano do que por um vinho alentejano, para obter a mesma qualidade.
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