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Castigador Serafim das Neves

Depois de me oferecer para ser esbofeteado pela Elsa Raposo, generoso convite a que ela não se dignou responder, o que só prova que é uma verdadeira senhora, vejo-me obrigado a voltar ao tema por causa do teu último e-mail em que falas dos pais condenados por terem dado uns estaladões num filho. É justa e digna a tua indignação perante tão bárbara sentença. Eu junto as mãos e agradeço a Deus por não ter vivido a minha infância nestes conturbados tempos. O que teria sido de mim com os meus pais na prisão?!! Teria ficado entregue a um qualquer estabelecimento de guarda de menores de onde fugiria periodicamente para roubar carros e telemóveis, é o mais certo.E o traumatismo que não seria para uma tenra criança como eu era ver a foto da minha querida mãe na primeira página de um qualquer tablóide, de rolos na cabeça, brandindo o seu famoso chinelo de ráfia??!! Ou a do meu austero pai ainda a apertar o cinto depois de me ter arreado mais umas bordoadas por eu ter chumbado por faltas ou por ter colocado meia dúzia de lesmas na cadeira do padre Prodóximo, meu saudoso professor de Religião e Moral??!!Estes são conturbados tempos para os pais. Nós, os da geração intermédia entre a liberalização total do estalo e a repressão mais negra, ainda aplicámos umas basquilhas nos putos. Mas já era notória a tendência repressiva que agora se instalou e que leva os Tribunais a condenar pais que cascam nos rebentos, mesmo ao de leve. Eu lembro-me bem dos protestos e olhares reprovadores do pessoal lá do café quando eu espetava uma nalgada no puto por ele se mandar para o chão a guinchar reivindicando a 15ª pastilha gorila do dia. Nunca esqueço que numa dessas alturas a sogra do Jacinto, gorda até às sobrancelhas, me chamou troglodita e pai desnaturado, calcula.Não sou pela porrada hard-core, não sei se me entendes??!! Aquela de quebrar ossos e partir cabeças. Mas confesso-me adepto da palmadinha terapêutica. Há momentos para tudo na vida de um progenitor perante um filho que as avós estragaram com mimo. Há momentos de diálogo em que o que dizemos lhe entra por um ouvido e sai pelo outro. Há momentos de ensino audiovisual, que é quando lhe levantamos a mão para ele perceber que se a mesma lhe cai em cima vai fazer estragos. E há o clímax total que acontece quando ao fim de dez minutos percebemos que o pestinha nos está a fazer caretas quando lhe viramos as costas. Aí é agir logo sem deixar a bola cair no chão. À Cristiano Ronaldo. Temos que ser os Cristianos Ronaldos da educação, parafraseando aquela campanha publicitária que anda por aí.Quem não deve partilhar as nossas ideias sobre o poder educativo da castanhada é aquele jogador de futebol do Samora, o Vítor Padinha. Um tipo que joga nas divisões secundárias há trinta anos e só viu um cartão vermelho e mesmo esse por engano, deve ter uma paciência de santo. Em campo e lá em casa. Não sei se ele tem filhos mas se tem deve ser digno de se ver. Ele tranquilamente no sofá a fazer zapping entre a sportv 1 e a 2 enquanto um furacão varre a sala ao bom estilo dos desenhos animados.E para terminar em beleza mando-te um abraço à antiga, com palmada nos costados e tudo. Agora vê lá se me pões em tribunal!!Manuel Serra d’Aire

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