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Hermínia Almeida preferiu o trabalho doméstico à vida dura do campo

É empregada doméstica a tempo inteiro numa casa de família

Depois de anos no campo a vindimar e a apanhar fruta no Vale de Santarém e na Portela das Padeiras, Hermínia Almeida optou por uma terceira via: o trabalho de empregada doméstica.

Não foi o sonho de uma vida que se apresentou à disposição mas uma oportunidade de trabalho. Cedo deixou de estudar. Casou aos 16 anos, altura em que teve o filho. “Completei a quarta classe porque não tinha jeito para estudar, a não ser para a matemática. Ler e escrever era pior”, recorda. O trabalho sempre era menos duro de que no campo onde se trabalha ao frio e ao calor. Começou por trabalhar à hora. A saltar de casa em casa, de prédio em prédio, para fazer limpezas em habitações e condomínios. Uma forma de trabalho que rende mais mas que se torna mais cansativa, com deslocações constantes. Mais estável é o sistema em que trabalha actualmente, ao mês. É na casa de uma família da Póvoa de Santarém que executa as tarefas de um lar com cinco crianças e respectivos pais. Um trabalho a tempo inteiro, como prefere, no qual faz de tudo um pouco, desde confeccionar a comida, lavar a roupa, passar a ferro, arrumar a casa. Há que fazer um pouco de tudo e ter jeito para lidar com tachos e panelas, apesar de todos os dias ficar planeado com a “patroa” o que fazer em cada ocasião. De manhã prepara a saída das crianças. No resto da manhã põe roupa a lavar e prepara o almoço. De tarde passa mais a ferro, a sua actividade menos “preferida”. De segunda a sexta-feira, das oito da manhã às 16h30, é a rotina de Hermínia Almeida. O seu dia começa às seis da madrugada para deixar o almoço feito para o marido e filha, antes de se deslocar para a Póvoa desde a Lourosa, Tremês.Não faz o mesmo tipo de trabalho todo de uma vez para não se tornar fastidioso. A bata ou o avental e o pano do pó são “companheiros “ inseparáveis na lida da casa. O trabalho nunca lhe trouxe percalços de maior. Ao limpar objectos ou passar roupa a ferro nunca teve o azar de partir ou estragar algo de significativo.As tarefas pressupõem uma relação de confiança grande entre quem contrata e quem executa. Hermínia Almeida não costuma apresentar cartas de referência do seu trabalho quando tem de mudar de local. “São as pessoas que vão conhecendo quem trabalha nesta área e se vão contactando entre si até encontrarem quem acham que é mais adequada para o lugar”, explica.A função da empregada doméstica começa também a ser vista com outros olhos. Como um trabalho a tempo inteiro e não apenas um biscate de algumas horas que se ganham aqui e ali. As empregadas domésticas a tempo inteiro já têm direito a subsídio de férias e de Natal. Só ainda não têm direito a subsídio de desemprego, mas tal depende do contrato a fazer e da forma como expira.Da muita vivência em casa de outras pessoas a trabalhar, Hermínia Almeida extrai sobretudo os bons momentos, alguns deles passados com as crianças. Como aquele em que explicou a um dos filhos de um casal que estava a falar com os botões enquanto dizia meia dúzia de palavras sozinha. “Ele disse-me que eu não tinha botões e no dia seguinte estava a fazer o mesmo”, recorda.Outros episódios têm a ver com a maneira de ser dos patrões. Hermínia diz não ter razão de queixa de ninguém mas admite que uma patroa de há alguns anos era daquelas pessoas mais “picuinhas” que nunca estava satisfeita e para quem as coisas nunca estavam a seu gosto. Mas as críticas têm de se aceitar, acrescenta. Apesar de não ser o emprego de sonho de uma vida ou aquele que se imagina em pequeno, Hermínia não pensa fazer outra coisa. Aos 46 anos considera-se muito nova para pensar na reforma e o mercado de trabalho não está para grandes escolhas. Por isso, vai vivendo o trabalho dia a dia.

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