Com o fado na ponta dos dedos
O sucesso dos fadistas está nas mãos de Bruno Mira e Tiago Silva
O sucesso da Grande Noite do Fado da Semana da Ascensão está nas vozes dos cantores e no trabalho dos guitarristas Bruno Mira e Tiago Silva. Os dois jovens músicos da nova geração vão sentir mais umqa vez o peso da responsabilidade a partir da altura em que seja proferida a conhecida frase: “Silêncio que se vai cantar o fado!”
Bruno Mira, de 29 anos, na guitarra portuguesa e Tiago Silva, de 22 anos, na viola, são dois guitarristas da nova geração de músicos da Chamusca que acompanham os fadistas participantes na Grande Noite do Fado, agendada para o Salão dos Bombeiros, no primeiro dia de festa da Ascensão, 16 de Maio. Perante tamanha responsabilidade gostariam de ter ensaios diários até lá mas isso é impossível. A maior parte dos fadistas são amadores. Alguns nem são da terra.“Se estamos preparados? Só se for para os copos”, diz Tiago Silva. Está dado o mote para uma conversa onde o humor esteve quase sempre presente.Tiago Silva começou a aprender a tocar viola aos 6 anos. A educação e o ambiente familiar levaram-no a amar a música desde cedo – “Eu sempre gostei muito do fado”. Mais tarde, aliou-se a Bruno Mira, uns anos mais. O amigo começou aos 16 anos. Iniciou os estudos musicais também pela viola clássica, passou pelo cavaquinho e no fim, apareceu-lhe no caminho a guitarra portuguesa. “Foi uma oportunidade” que surgiu há cerca de cinco anos. Quem incentivou os dois jovens foi um músico mais antigo, José Pinhal. Todos juntos formaram o “Grupo do Julião”. Tocavam música popular portuguesa. “Ainda chegamos a gravar uma cassete, mas agora estamos mais virados para o fado”, contam.Bruno Mira auto define-se como o típico macho ribatejano – “Gosto de cavalos, gosto de touros, gosto da guitarra e gosto de mulheres bonitas (risos)”. É ajudante de farmácia mas quando tem tempo livre vai para o campo. Para montar a cavalo, lidar com os animais e petiscar. “Não há melhor para acabar um dia que um bom chouricinho assado, um copo de vinho e umas guitarradas”, diz a sorrir.O amigo Tiago Silva vive longe do campo. Mergulhado no rebuliço da grande Lisboa, dá aulas de música. Só ele assume que gostava de ser músico profissional – “Para mim não era uma profissão, era um privilégio”. Aos poucos vai tentando. Já acompanhou alguns dos nomes mais importantes do fado nas Casas de Fado mais conhecidas. Ao fim de cada semana gosta de regressar à sua Chamusca natal para as tertúlias com os amigos. Até hoje o grande momento das suas vidas artísticas foi um concerto dado no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, com sala esgotada. “O ambiente é diferente das tascas. O silêncio é impressionante e permite-nos concentrarmo-nos só na música”. Tiago anui com um aceno e explica, “Foi a primeira vez que tocámos com um contrabaixo. Foi uma experiência completamente diferente”.O que distingue a guitarra portuguesa de outros instrumentos, para além do som e de outras características é “o sentimento” tenta explicar Bruno Mira. “Eu nunca toco um fado da mesma maneira. A disposição de cada dia influencia a forma de tocar, assim como a qualidade do fadista que acompanho. Os mais difíceis são os que cantam mal. São eles que exigem mais”, diz, para logo acrescentar mas nunca rejeitamos acompanhar alguém”.“A viola é a base. Quanto mais simples melhor, não se pode inventar”. Já a guitarra tem um pouco mais de liberdade. Pode brilhar, em cada momento de pausa do cantor – “um bom acompanhante é aquele que deixa fluir o fado, deixa o fadista brilhar e responde nos momentos certos”, decifra Bruno Mira. E o que distingue um guitarrista de outro? “A classe”, remata.
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