Cáustico Serafim das Neves
Escrevo-te roidinho de inveja. Roidinho e verde. Todo verde, mesmo. Verde inveja. Este mundo é injusto e Deus dorme a sono solto sem se importar com nada. Porque é que o talento está todo concentrado em meia dúzia de génios? E porque é que eu não estou incluído nesse grupo restrito de privilegiados? Que mal fiz eu para merecer tamanha discriminação? Vou respirar para dentro de um cartuxo de papel como vejo fazer nos filmes quando há alguém à beira de um ataque de nervos e já te conto o que se passa.Tudo começou com leituras altamente intelectuais. Quem me manda a mim deitar as unhas à revista LVT Lisboa|Vale do Tejo (Juro que é assim que está na capa)? Pois bem. Sai-me ao caminho uma entrevista da consagrada jornalista Ana Sousa Dias ao presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas. Com a cabeça atravancada com as loas tecidas à entrevistadora pus o joelho direito em terra em sinal de veneração e respeito, deitei mais um pouco do tinto reserva no copo e lancei-me à leitura. O Francis Drake quando foi recebido pela Rainha de Inglaterra disse aos seus homens para porem a mão em pala sobre os olhos porque corriam o risco de ficar cegos pelo brilho que emanava de tão excelsa senhora. Compreende-se a preocupação. Ao que contam a rainha era feia e ele temia que a maralha começasse a mandar bocas foleiras. Pobre de mim que não tinha o Corsário por perto para me dar tão sábio conselho. Encandeei-me e fiquei vesgo à oitava pergunta. “Quantos lugares tem o auditório do Centro Cultural?”. Toda a vida me disseram que as coisas simples são as mais difíceis. Estupidamente nunca acreditei. E de repente ali estava eu. O vinho a escorrer do copo para cima do sofá, a boca aberta de pasmo, o coração aos saltos que nem o cavalo do Zorro. “Quantos lugares tem o Centro Cultural?”. Mas porque é que eu nunca me lembrei desta? A revista da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo não é uma publicação qualquer. É coisa fina, a rondar o luxuoso. Paga pelo povo, destina-se a manter o povo bem informado sobre o que se passa na região. Tem por missão fazer aquilo que os jornais e revistas de Lisboa e Vale do Tejo não fazem, entretidos que andam com ninharias, politiquices e historietas da treta. Compreende-se que tenha contratado a nata do jornalismo português para integrar o seu corpo redactorial. Parafraseando um famoso poema do Bertold Brecht: atrever-se-ia a informação a nascer sem uma entrevista da Ana Sousa Dias? Tanta gente que já entrevistou o Paulo Caldas e nunca ninguém teve discernimento para lhe colocar uma pergunta inteligente que fosse!!! É por isso que eu esbracejo e espumo de invejosice aguda. Porque é que o talento está concentrado em meia dúzia de génios? E porque é que eu não faço parte desse círculo restrito? Termino com uma referência ao Presidente da Câmara de Almeirim, esse mártir da informação autárquica. É injusto que tenha levado bordoada do presidente do Sindicato dos Jornalistas só porque ofereceu 250 euros ao jornalista que melhor dissesse do seu concelho. Um autarca que tantas vezes anda de braço dado com o presidente da CCDR-LVT não aprendeu nada com ele? Ó homem, peça ao Engº Fonseca Ferreira o telefone da Ana Sousa Dias e faça as coisas como deve ser. Vai ver que depois do Boletim Municipal ser publicado, em vez de críticas ainda recebe louvores dos sindicalistas. E se a entrevistadora lhe perguntar quantos lugares tem o Cine-Teatro da sua cidade não se atrapalhe. Responda à Engº Guterres: “Bom…cada fila tem vinte cadeiras…são vinte e duas filas…é só fazer as contas!!!”Dois parágrafos bem medidos de cumprimentos doManuel Serra d’Aire
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