Manuel Cristeta é sapateiro em Vila Franca de Xira há cinquenta anos
Pôr meias-solas, capas ou coser calçado fazem parte do seu dia a dia
O sapateiro ligou-se ao primeiro ofício que aprendeu. Mesmo quando desempenhou outras actividades nunca se desligou da arte que domina com engenho e onde conta com muitos clientes.
Deixou a escola para ir aprender um ofício, já lá vão cinquenta anos. Meio século que Manuel Cristeta passou a consertar os sapatos dos clientes que o procuram. Há 23 anos que abriu o seu estabelecimento, junto ao mercado de Vila Franca de Xira. A loja nem chegou a ser baptizada oficialmente. Passou logo a ser conhecido como o “Manel, o sapateiro”. Em Vila Franca de Xira, todos sabem onde hão-de ir quando os sapatos que usam já não os deixam ir muito longe.“Tinha que aprender a fazer alguma coisa e calhou ser isto”, relembra a O MIRANTE. Foi o acaso que o fez acabar por escolher uma profissão agora em vias de extinção. “Era do melhor que havia na altura. Pelo menos não era tão duro como a vida no campo”, explica. Na sua pequena loja em Vila Franca de Xira recebe tantos clientes que até lhes perde a conta. Não sabe o número mas sabe-lhes o nome a quase todos. Os clientes aqui são amigos. Entram e, enquanto esperam pelo conserto, aproveitam para trocar dois dedos de conversa. À medida que o tempo vai passando, já se lhe conhecem os nomes dos parentes, as alegrias e até as mágoas. Enquanto conversamos, o toureiro Victor Mendes entra na loja. Há as perguntas pelos filhos e pela família, confidências de clientes mais assíduos. “Viu? Era o toureiro Victor Mendes”, diz Manel. “Vem cá tudo à minha casa!”, exclama, com um sorriso de orgulho mal disfarçado.Seja para pôr meias-solas, capas ou coser calçado, não há nada que Manuel Cristeta não faça. São muitos anos de arte. Muito daquilo que sabe foi aprendendo sozinho, com o tempo e com a prática. “Há cinquenta anos nem sequer havia sapatos destes”, diz, referindo-se a uns chinelos de pele para homem. Garante que naqueles poucos metros quadrados que lhe servem de loja lhe aparece de tudo um pouco. “Vêm pedir-me bocadinhos de fio, agulhas, bocados de cabedal…”, enumera.A loja está aberta de segunda a sábado, com descanso à quinta-feira. O trabalho é muito e os clientes exigem rapidez na entrega do serviço pronto. A esposa de Manuel Cristeta vai ajudando aos bocados, com várias tarefas, ora atendendo clientes ora limpando onde é preciso. O casal tem duas filhas mas não espera que estas herdem o negócio. Nas poucas alturas em que não está a pôr meias-solas ou a coser sapatos, o sapateiro gosta de passar tempo com os seus animais, “os três ou quatro pássaros que tem no quintal” e os seus cães, com os quais se dedica também à caça.Apesar de não ter sido uma escolha consciente, Manuel Cristeta acabou, ao longo da vida, por escolher esta profissão em detrimento de outras oportunidades que foram surgindo. “Já fui canalizador, motorista, andei no negócio do peixe… Faço de tudo um pouco mas isto é aquilo de que mais gosto de fazer”, confessa, acrescentando que mesmo quando se dedicou a outras actividades, nunca deixou totalmente de lado a profissão de sapateiro. “Faço isto com gosto. Foi o primeiro ofício que aprendi e arranjo tudo com gosto”, diz. Clientes não lhe faltam. O que vai faltando é gente que queira aprender o ofício e perpetuar a arte. “Manel, o sapateiro” lamenta que os mais jovens virem as costas a este tipo de profissão. “Daqui a uns tempos, vai fazer falta”, avisa.
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