As palavras mais belas e as notícias mais justas
Um dia destes, no lançamento de um livro de um amigo poeta, ouvi o escritor e jornalista Baptista-Bastos, de quem sou admirador, dizer que tem o mais profundo desprezo pela imprensa portuguesa. Principalmente pela chamada imprensa de referência que escreve um português codificado e que não faz mais do que servir o Poder dando-lhe permanentemente a sua imagem devolvida.Dizia ele que temos a melhor música popular, os melhores poetas, os melhores criadores mas, regra geral, isso não é notícia nos jornais nem na televisão. Uma hora antes da apresentação do livro ouvi-o dizer que O MIRANTE era, hoje, aquilo que tinha sido o Diário Popular nos velhos tempos: um jornal popular que dá a voz às pessoas já que é assim que um jornal pode e deve cumprir a sua missão.Apesar das críticas, e também dos elogios, tenho sempre dúvidas sobre se o caminho que estamos a trilhar é o melhor. Todas a semanas agarro neste jornal e pergunto a mim próprio se não seria possível fazer melhor. Se não deveríamos ter ido um pouco mais longe na pesquisa da informação, na qualidade da escrita, na busca das palavras mais belas e das notícias mais justas.Antes de jornalista e gestor deste jornal sou um crítico permanente do meu trabalho e do ofício das pessoas que fazem equipa comigo. E cada vez que ouço alguém falar mal do trabalho dos jornalistas, ainda que em abstracto, sinto sempre que sou o alvo principal das críticas e que ainda tenho que comer muito sal para editar o jornal que os nossos leitores e anunciantes merecem.Hoje (escrevo a uma quarta-feira) recebemos na redacção alguns telefonemas de pessoas que, por várias razões, entenderam fazer ouvir a sua voz enquanto liam o jornal ainda a sujar as mãos de tinta.Houve pelo menos um caso em que tenho que reconhecer a injustiça do esquecimento. Um caso em que me demiti das minhas responsabilidades e não dei a ajuda que devia ter dado a um dos meus catorze colegas jornalistas que escreveram para esta edição. Por isso, logo que recebi o recado, fiquei triste. E olhei para o jornal e para as 88 páginas das três edições diferenciadas, que concentram uma árdua semana de trabalho, e disse uma asneira. Porra…. e como é que é possível ainda haver tanta gente contentinha da silva nesta profissão que nos leva o couro e o cabelo!JAE
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